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Furto de botijão de gás se torna rotina e tira o sossego dos moradores de Guarapuava

Numa das ocorrências, rapaz deu de cara com ladrão dentro de casa

13/10/2025
Ladrão pode ter andado a pé, com botijão de gás nas costas, do Batel ao Boqueirão, por cerca de 5 quilômetros  – e acabou sendo preso (Imagem Ilustrativa)Ladrão pode ter andado a pé, com botijão de gás nas costas, do Batel ao Boqueirão, por cerca de 5 quilômetros – e acabou sendo preso (Imagem Ilustrativa)

Em menos de seis horas, entre a noite de sábado e a madrugada de domingo, três ocorrências distintas, em três bairros diferentes de Guarapuava, revelaram não apenas a repetição de um crime comum, mas também uma inquietante coreografia urbana: o furto de botijões de gás, fios de cobre e pequenos aparelhos eletrônicos – itens que, em um mercado paralelo invisível, têm mais valor do que parece.

A sequência de furtos qualificados registrados no fim de semana começa com uma vendedora ambulante de 56 anos, moradora da Vila Bela. Seu trailer de lanches foi arrombado e, dele, desapareceram um botijão de gás cheio, um carregador de celular e cerca de dez metros de fio de cobre. Sem câmeras de vigilância, sem testemunhas, sem vestígios. O patrulhamento da polícia não localizou os autores. A comerciante recebeu apenas orientações.

Horas depois, às 00h55 da madrugada de domingo, a cena se repete – agora no Batel. Um jovem de 20 anos acorda com barulhos dentro de casa. Ao investigar, encontra um homem no interior de sua residência. O intruso, surpreendido, abandona parte dos objetos – um notebook e a carteira da vítima – e foge. Mesmo assim, conseguiu levar um botijão de gás, um aparelho de medir glicose e uma bolsa de notebook. A polícia novamente patrulha, mas sem sucesso.

Poucos minutos após esse segundo chamado, a cerca de 5 quilômetros dali, no bairro Boqueirão, uma coincidência chama atenção: policiais, em diligência por outro furto, avistam um homem carregando um botijão de gás e uma bolsa. Ao ser abordado, o suspeito desobedece às ordens, foge a pé e, ao ser alcançado, agride os policiais com socos e chutes. Ele é contido com uso de força moderada. Preso em flagrante, o homem de 35 anos foi levado à delegacia com os objetos apreendidos – entre eles, curiosamente, um botijão e uma bolsa.

O crime como sintoma 

Embora tratados como ocorrências isoladas, os três casos apresentam pontos de conexão que sugerem algo mais profundo do que a simples repetição de delitos menores. Em todos os episódios, o botijão de gás – um item aparentemente banal – aparece como objeto de desejo e moeda de troca. No mercado informal, um botijão pode ser vendido por até R$ 100, valor suficiente para abastecer o consumo de drogas ou custear outras necessidades básicas.

Especialistas em segurança urbana apontam para o aumento desse tipo de furto como reflexo da crise social e da fragilidade dos sistemas de vigilância comunitária – tanto, que a Polícia Militar está adotando uma nova estratégia em Guarapuava, implantando o "policiamento de aproximação". 

Sob a ótica econômica e social, p furto de botijões é um indicador silencioso de colapso social, segundo os especialistas. Eles são pesados, volumosos e, ainda assim, atraentes para o roubo. Isso mostra o quanto o crime está sendo impulsionado por necessidades imediatas, e não apenas por oportunismo.

Cidades às escuras

Outro elemento comum nos relatos é a ausência de câmeras, de vigilância ativa, ou de redes de proteção comunitária. Seja no trailer de lanches na periferia, seja em uma residência no Batel, a resposta institucional parece seguir um padrão: orientação, patrulhamento, e – na maioria das vezes – nenhum resultado concreto.

No ano passado, a Prefeitura de Guarapuava implantou dezenas de câmeras espalhadas em pontos estratégicos da cidade, com a promessa de criar um "big brother" com vigia em tempo real. Mas, se o sistema alcance o ladrão que entra numa residência para furtar um botijão de gás, isto precisa ser avaliado. Mas, é este tipo de furto que atormenta o dia a dia da população.

Quando há flagrante, como no Boqueirão, a narrativa muda. O suspeito não apenas resistiu à prisão, mas atacou os agentes com violência e foi repelido na mesma proporção.  O curioso é que o ladrão que roubou um botijão e uma bolsa no Batel pode ser o mesmo que foi encontrado no Boqueirão.  Ou seja: ele andou cerca de 10 quilômetros com o botijão nos ombros.

Cadeia de valor

O furto de fios de cobre, por exemplo, remete a uma rede paralela que envolve sucateiros, recicladores clandestinos e atravessadores. Já os botijões e pequenos eletrônicos são revendidos em mercados informais, feiras e até plataformas online. Tudo isso ocorre sob o radar, alimentado por uma economia subterrânea que cresce quando a formal entra em colapso.

Para a vendedora da Vila Bela, o prejuízo pode ser pequeno nos números – mas devastador no cotidiano. Qualquer perda, para um pequeno comerciante, é muito. O que maus pesa, porém, é a sensação contínua de insegurança.  

É nesse detalhe que reside, simbolicamente, um botijão de gás: prejuízo pequeno, impacto grande.

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