O homem por trás do golpe: como Celso Fruet enganou dezenas de agricultores no interior do Paraná
Ex-dono de cerealista, acusado de estelionato na ordem de R$ 20 milhões, é considerado foragido
14/10/2025
Durante mais de três décadas, Celso Fruet era visto como um nome respeitado no Oeste do Paraná. Proprietário de uma cerealista em Campo Bonito, município de pouco mais de 4.000 habitantes, próximo a Cascavel, ele operava silos, comprava safras de soja e trigo e cultivava uma relação de confiança com produtores rurais da região – muitos dos quais negociavam com ele sem contratos formais, baseando-se apenas em apertos de mão e anos de convivência.
Agora, aos 72 anos, Fruet é considerado foragido da Justiça. Ele é acusado pelo Ministério Público do Paraná de comandar um esquema de estelionato que deixou pelo menos 120 agricultores no prejuízo e resultou em um suposto enriquecimento ilícito de mais de R$ 20 milhões. Até o início do agosto, os investigadores tinham levantado valores da ordem de R$ 11 milhões, conforme reportagem publicada na época pelo Portal Paraná Central.
Segundo a denúncia oferecida pelo MP, Fruet continuou a negociar grãos mesmo após vender sua empresa para uma cooperativa regional no início de junho de 2025. Sem comunicar aos produtores, ele teria mantido a rotina de recebimento de sacas de soja e trigo, mas deixou de fazer os pagamentos prometidos.
Quando os agricultores tentaram localizar Fruet em julho, encontraram silos vazios, portas fechadas e uma placa de "vendido". Só então souberam que o empresário havia encerrado suas atividades semanas antes, sem qualquer aviso ou acerto de contas.
Ostentando carros de luxo, correntes de ouro, chapéu de cowboy, Fruet era o típico novo-rico que emergiu do agronegócio como um empresário bem-sucedido – e, como tal, "diferenciado". Ele conhecia todo mundo pelo nome, frequentava as festas da cidade, ajudava a igreja, de maneira que para, os agricultores locais, seria praticamente impossível reconhecer nele um estelionatário.
Padrão que se repete
As investigações do Ministério Público, todavia, indicam o contrário. O MP lembra que Fruet já havia sido citado em denúncias semelhantes em outros municípios paranaenses, como Capanema e Catanduvas. Na época, os casos não prosperaram judicialmente – ou foram considerados prescritos.
Desta vez, o Ministério Público foi além: apresentou 124 acusações formais de estelionato, sendo 38 delas com vítimas idosas – um agravante previsto no Código Penal. Fruet teve a prisão preventiva decretada e é procurado pela polícia.
A estratégia descrita pela Promotoria incluía a oferta de preços acima do mercado, o que atraía agricultores para entregar suas safras sob a promessa de pagamento posterior. Com os produtos já armazenados, Fruet desaparecia sem realizar os depósitos. “Foi um golpe de confiança. E ele sabia exatamente com quem estava lidando”, afirma um investigador envolvido no caso.
A pequena Campo Bonito, Oeste do Paraná, com cerca de 4.200 habitantes, a grande maioria de agricultores
Impacto entre os idosos
Entre as vítimas, muitos de idade avançada – donos de pequenas propriedades ou patriarcas de famílias multigeracionais que dependem da renda das safras para se manter. Em alguns casos, os prejuízos comprometeram tratamentos médicos, compra de insumos e até alimentação.
“Meu pai tem 74 anos. Ele entregou o trigo e não viu um centavo. Agora está com pressão alta e sem dinheiro pra comprar remédio”, conta a filha de um agricultor afetado. “O que mais dói é saber que ele confiava tanto nesse homem.”
Especialistas apontam que golpes financeiros envolvendo idosos têm impactos desproporcionais. A escassez de alternativas de renda e a dependência emocional de relações pessoais agravam os efeitos de fraudes como essa. A traição da confiança é tão destrutiva quanto a perda financeira.
Justiça, prevenção e vazio legal
A denúncia do MP pede não apenas a condenação de Fruet, mas também o pagamento de reparações mínimas às vítimas – um processo que pode se arrastar por anos, considerando a complexidade do caso e a ausência do réu.
Enquanto isso, líderes locais e defensores públicos defendem a criação de mecanismos mais eficazes de prevenção e fiscalização de negócios informais no campo. “É fundamental que os agricultores sejam orientados a exigir contratos, notas fiscais e garantias mínimas antes de entregar produtos”, afirma um representante do Ministério da Agricultura.
Até a manhã desta terça-feira (14), Fruet não se apresentou às autoridades. Em Campo Bonito, restam os rastros de uma empresa fechada e de uma comunidade abalada.
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