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Guarapuava e o exemplo de Palmas: investimento em energia eólica é viável?

Enquanto o Sudoeste do Paraná avança com megaprojetos de energia renovável, Guarapuava ainda aposta majoritariamente em pequenas centrais hidrelétricas – apesar do alto potencial para geração de usinas movidas a vento

08/10/2025

Na vastidão dos campos paranaenses, onde o vento sopra constante e firme, Palmas acaba de receber o sinal verde para a construção de um dos maiores complexos eólicos do país. Com um investimento estimado em R$ 3,5 bilhões, o Complexo Eólico Palmas II, no Sudoeste do Estado, marca um novo capítulo na transição energética do Paraná – e lança uma pergunta inevitável: por que outras regiões com perfis semelhantes, como Guarapuava, ainda não seguiram o mesmo caminho?

A resposta passa por tradição, estrutura regulatória e prioridades de investimento. Até aqui, os maiores aportes em geração de energia na região de Guarapuava concentram-se em Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), modelo predominante na matriz energética local. Embora eficientes e relativamente sustentáveis, as PCHs apresentam limitações em períodos de estiagem e dependem de intervenções mais sensíveis aos ecossistemas hídricos. Em contrapartida, a energia eólica surge como alternativa complementar, abundante e de impacto ambiental reduzido. As centrais hidrelétricas tornaram-se tão atrativas, pela abundância de quedas de água na região, que até o Rio Jordão, no Parque do Jordão, foi reconfigurado para atender a interesses particulares, com impacto no visual do parque ambiental mais popular de Guarapuava e região.

Segundo mapeamentos do Atlas Eólico do Paraná e levantamentos técnicos de universidades estaduais, Guarapuava apresenta condições topográficas e climáticas que podem ser propícios para projetos de médio e grande porte em energia dos ventos. Áreas de campo aberto, combinadas à altitude e à constância das correntes de ar, colocam o município em posição estratégica para a diversificação de sua matriz energética.

Ainda assim, projetos de grande escala como os de Palmas permanecem ausentes.

Um projeto que muda o jogo

A pouco mais de 200 km de Guarapuava, Palmas está prestes a se tornar referência nacional no setor. O Complexo Eólico Palmas II, que acaba de receber a Licença de Instalação (LI) do Instituto Água e Terra (IAT), será erguido em uma área de 145 hectares e contará com 72 turbinas de 7 MW cada, totalizando 504 megawatts (MW) de potência instalada.

A energia a ser gerada gerada pela nova usina de Palmas será suficiente para abastecer cerca de 300 mil domicílios – o equivalente a mais de 1,2 milhão de pessoas.

O projeto é liderado pela empresa Vento Sul Energia, com apoio técnico e regulatório do governo estadual. A construção está prevista para durar dois anos, gerando até 5 mil empregos diretos e indiretos, com prioridade para a mão de obra local. As torres, com 160 metros de altura, serão fornecidas pela WEG e distribuídas em sete parques interligados.

"Durante muito tempo, o potencial eólico de Palmas foi ignorado. Hoje, estamos transformando esse ativo natural em riqueza e oportunidades", afirmou o governador Carlos Massa Ratinho Junior durante a entrega da licença. “Esse projeto garante segurança energética e atrai novos investidores para o Paraná.”

Sustentabilidade na prática

Além da potência instalada e da geração de empregos, o projeto de Palmas se destaca pelo rigor técnico e ambiental. Segundo Pedro Dias, diretor-executivo do IAT, o complexo passou por anos de estudos ambientais e planejamento técnico. “Começamos com uma proposta de 100 torres e 200 MW. Hoje temos uma configuração mais eficiente, com menos torres, mas mais que o dobro da capacidade”, explicou.

A concepção do projeto priorizou a preservação ambiental: não houve necessidade de supressão de vegetação nativa, e as torres foram posicionadas de forma a respeitar corredores de vento e rotas de aves migratórias. Audiências públicas com a comunidade local também ajudaram a ajustar o traçado do projeto às demandas dos produtores rurais e moradores da região.

Além disso, a conexão com o Sistema Interligado Nacional (SIN) será garantida por uma nova linha de transmissão de 525 kV, ligando a Subestação Coletora de Palmas ao ponto de conexão da Eletrosul, no município vizinho de General Carneiro.

Guarapuava: até hoje, nenhum estudo de viabilidade técnico-econômica

Enquanto Palmas desponta no mapa da energia eólica, Guarapuava segue apostando em projetos hídricos. O município e seus arredores abrigam diversas Pequenas Centrais Hidrelétricas, e há previsão de novos investimentos nessa modalidade nos próximos anos. Segundo o governo estadual, o Paraná deve receber R$ 1,1 bilhão para a construção de 11 novas PCHs, sendo algumas delas na região central do estado.

Contudo, especialistas defendem que o vento poderia ter papel complementar – e estratégico – na matriz energética local. Para que Guarapuava abrigue um parque eólico, é necessário um estudo aprofundado, que poderia ser iniciativa de instituições universitárias ou órgãos governamentais do segmento econômico, e, também, criar atrativos regulatórios e facilitar os processos de licenciamento, como aconteceu em Palmas.

Oportunidade estratégica

Para Guarapuava, seguir o exemplo de Palmas não significa abandonar as hidrelétricas, mas sim diversificar sua matriz e atrair uma nova onda de investimentos. A energia eólica pode ser produzida sem impacto hídrico, o que a torna especialmente estratégica em cenários de seca, como os registrados no Paraná nos últimos anos.

Além disso, a chegada de empreendimentos desse porte pode impulsionar o desenvolvimento socioeconômico regional. A experiência de Palmas mostra que o impacto vai além da geração de energia: atrai indústrias, fomenta o turismo e promove a valorização das áreas rurais, com o arrendamento de terras para a instalação das turbinas.

“Projetos bem estruturados sempre encontram investidores”, afirmou o governador Ratinho Junior, durante o anúncio com empresários de Palmas. “Ainda mais quando aliam excelência técnica, responsabilidade ambiental e benefício direto à população.”

Uma nova fronteira

A trajetória de Palmas na energia dos ventos mostra que é possível transformar potencial natural em ativo econômico com planejamento, ciência e envolvimento comunitário. Para Guarapuava, o momento é oportuno: o Estado vive um ciclo de crescimento sustentado, com média anual superior a 6%, e a segurança energética é fator determinante para atrair novos negócios.

Enquanto isso, o vento continua soprando forte sobre os campos de Guarapuava – esperando apenas ser colhido.

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