Brasil rumo a uma super safra: a força do agronegócio paranaense em um país que se reinventa pelo campo
Produção agrícola recorde em 2025 reposiciona o Brasil como potência exportadora, com o Paraná entre os protagonistas – mas gargalos logísticos e riscos climáticos seguem no horizonte
14/10/2025
Apesar de um contexto econômico global instável e de desafios climáticos recorrentes, o Brasil se firma em 2025 como o celeiro resiliente do planeta. Segundo a mais recente estimativa do IBGE, a safra nacional de grãos – que inclui cereais, leguminosas e oleaginosas – deve atingir 341,9 milhões de toneladas, um crescimento expressivo de 16,8% em relação a 2024, consolidando o país como um dos protagonistas globais no abastecimento agroalimentar.
O aumento de 49,2 milhões de toneladas não é apenas resultado de expansão territorial – a área a ser colhida deve crescer 3,0%, alcançando 81,4 milhões de hectares –, mas, principalmente, da elevação da produtividade, especialmente em culturas-chave como milho, soja e arroz, que juntos representam mais de 92% do volume total.
O impulso do Paraná: alta na produção e avanços em produtividade
Neste cenário, o Paraná, segundo maior produtor agrícola do país, emerge como um exemplo de eficiência técnica, adaptação climática e diversidade produtiva, mesmo diante de adversidades localizadas.
Com 13,5% da produção nacional de grãos, o Paraná ocupa o segundo lugar no ranking nacional, atrás apenas do Mato Grosso, o tradicional campeão da soja e do milho. O desempenho paranaense em 2025 chama atenção pelo volume e pela qualidade da recuperação em culturas sensíveis, especialmente após os impactos climáticos severos que marcaram os anos anteriores.
O milho 2ª safra no estado é um caso emblemático. A produção paranaense deve atingir 17,4 milhões de toneladas, alta de 38,3% em relação a 2024 – uma resposta direta à recuperação climática e ao uso intensivo de tecnologias de plantio direto e manejo integrado de solos. Com isso, o estado reafirma sua posição como segundo maior produtor da “safrinha”, atrás apenas do Mato Grosso.
Também há destaque no trigo, uma cultura historicamente vulnerável às intempéries no Sul do Brasil. A produção paranaense foi estimada em 2,7 milhões de toneladas, com crescimento de 13,4% sobre o ano anterior. O rendimento médio – que aumentou 57,5% – mostra o impacto positivo do manejo técnico mais sofisticado, aliado a um inverno mais estável em 2025.
COOPERATIVA AGRÁRIA ENTRE RIOS – DOIS CAMINHOS
■ CEVADA E MALTE – Ampliar a produção de malte na Agromalte, com sede na Colônia Vitória (Entre Rios), mantendo-a como maior maltaria da América Latina
■ INTEGRADO DE FRANGOS – Tirar do papel o projeto de integração de frangos, com a consequente construção de um frigorífico, de alcance regional
Hoje, Guarapuava e Ponta Grossa são os maiores centros do Brasil na produção de cevada e malte cervejeiro
Na cevada, o Paraná reafirma sua hegemonia nacional. Com produção de 449,4 mil toneladas, o estado responde por quase 80% da cevada brasileira, ampliando sua liderança em uma cultura-chave para a indústria cervejeira.
Contudo, nem todos os indicadores são positivos. No caso do feijão, o Paraná lidera nacionalmente com 841 mil toneladas, mas sofreu uma queda de 11% na 1ª safra em relação a agosto, reflexo de perdas localizadas e menor rendimento médio. Ainda assim, na 2ª safra, o estado lidera com 538,6 mil toneladas, mesmo com retração anual de 19%, compensada parcialmente pelo aumento da área colhida.
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A força de uma safra recorde: soja e milho lideram recuperação nacional
Os números impressionam: 165,9 milhões de toneladas de soja, 138,4 milhões de milho, e 12,4 milhões de arroz. A agricultura brasileira vive um momento raro de convergência positiva entre área plantada, produtividade e preços internacionais relativamente favoráveis, ainda que a volatilidade cambial e os custos logísticos continuem desafiando margens.
A soja, com aumento de 14,4% na produção, se beneficia tanto do avanço da fronteira agrícola quanto da melhoria das condições climáticas. Mesmo com a quebra severa no Rio Grande do Sul, onde a produtividade caiu 25,2%, a produção nacional foi puxada por bons resultados no Centro-Oeste e Norte.
O milho, por sua vez, teve crescimento de 20,7%, dividido entre uma safra de verão mais robusta (alta de 14%) e uma safrinha surpreendente, com crescimento de 22,4%. O avanço das tecnologias de segunda safra e o clima mais úmido foram determinantes. A produtividade média nacional saltou para 6.246 kg/ha, marcando um recorde histórico.
A geografia da produção: do Cerrado à Mata Atlântica
A pujança agrícola brasileira continua ancorada no Centro-Oeste, com destaque para o Mato Grosso, que sozinho responde por 32,4% da produção nacional de grãos. A região como um todo detém mais da metade do total nacional (51,4%).
O Sul, com 25,1% do total, combina tradição e inovação. Paraná e Rio Grande do Sul dividem protagonismo – o primeiro mais tecnificado, o segundo mais afetado por variações climáticas extremas.
O Sudeste, com 8,8%, e o Nordeste, com 8,2%, vêm crescendo com foco em culturas específicas como café, feijão e mandioca. Já o Norte, com 6,5%, ganha espaço graças à soja em áreas recém-incorporadas no Pará e Tocantins.
Café, tomate e algodão: entre tradição e modernização
A produção nacional de café deve alcançar 3,4 milhões de toneladas, uma alta modesta de 1%, mas com importante diferencial: o café canephora (conilon), usado em blends e cafés solúveis, atinge recorde histórico, com 1,2 milhão de toneladas. O Espírito Santo lidera com 69% da produção, seguido por Rondônia e Bahia.
O café arábica, tradicional nas montanhas de Minas Gerais, vive um ano de bienalidade negativa e recuo de 7,5%, agravado por problemas climáticos em 2024. A necessidade de maior volume de grãos para compor uma saca indica menor densidade dos frutos, o que afeta qualidade e exportações premium.
O algodão, embora ocupe espaço limitado em termos de área, continua se destacando pela alta produtividade. A safra de 2025 foi revisada para 9,8 milhões de toneladas, novo recorde histórico, puxado por investimentos em irrigação e genética avançada no Mato Grosso, responsável por 73% da produção nacional.
Já o tomate, mais volátil, viu um salto de produtividade (4,4%) apesar da redução de área, o que permitiu um leve aumento de produção para 4,7 milhões de toneladas. Goiás lidera com 35% do total.
E o feijão, símbolo nacional?
Em um país onde o feijão com arroz é parte do cotidiano, a safra de 2025 traz um paradoxo. Embora o Paraná mantenha a liderança, com 841 mil toneladas, a produção nacional deve cair 0,5%. As três safras, somadas, atingirão 3,1 milhões de toneladas, suficientes para abastecer o consumo interno, mas com margem apertada.
Diferente de commodities como soja e milho, o feijão sofre com falta de escala, instabilidade climática e menor incentivo tecnológico. O desafio aqui não é apenas produtividade, mas logística e política de preços mínimos, ainda pouco eficazes.
Mandioca, a raiz da resistência
Fora dos holofotes, a mandioca surpreende: com 20,6 milhões de toneladas previstas para 2025, o crescimento é de 7,9%. O Pará e o Paraná disputam o protagonismo, com pouco mais de 4,3 milhões de toneladas cada. Sua importância vai além do agronegócio: trata-se de alimento de base para milhões de brasileiros em zonas rurais e urbanas.
Perspectivas: crescimento com dilemas estruturais
A safra recorde de 2025 reafirma a centralidade do agronegócio brasileiro, tanto para a balança comercial quanto para a segurança alimentar global. Todavia, também escancara os limites da infraestrutura, a exposição ao clima extremo e a necessidade de diversificação de mercados. A dependência de poucas culturas e de grandes players – China, UE, EUA – torna o Brasil vulnerável a mudanças geopolíticas e tarifárias.
No plano interno, o setor convive com discrepâncias regionais, concentração fundiária e dificuldades de acesso a crédito rural por pequenos e médios produtores. Enquanto gigantes como o Mato Grosso expandem produção via capital intensivo, estados como o Rio Grande do Sul sofrem com eventos climáticos extremos e perdas recorrentes.
Conclusão: o Brasil de 2025 é, mais do que nunca, um país que cresce pelo campo. E o Paraná, com sua agricultura diversa, técnica e resiliente, é um microcosmo desse avanço. A questão agora não é apenas produzir mais, mas produzir melhor, com sustentabilidade, inovação e equidade.
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China como cliente número um do agronegócio brasileiro
Brasil entre China e EUA: os confrontos estão nos números
● A China continua sendo o principal destino das exportações agrícolas brasileiras, comprando uma larga fatia da soja, milho, carne e outros produtos primários.
● Em 2025, já se verifica uma elevada dependência da China para a soja brasileira: em setembro, 93% das exportações do grão foram destinadas à China.
● A estimativa para as exportações totais de soja em 2025 gira em torno de 108 a 110 milhões de toneladas, com grande parcela direcionada à China.
● Dada a imposição de tarifas chinesas sobre soja americana e barreiras aos EUA, o Brasil aparece como alternativa competitiva.
Pressões aos EUA – e espaço para o Brasil
● Com as tarifas chinesas sobre a soja dos EUA, exportadores americanos veem perdas de mercado. Simultaneamente, o Brasil expande suas vendas agrícolas para mercados que antes eram dominados pela agricultura americana.
● As exportações brasileiras de grãos subiram cerca de 9% no primeiro quadrimestre de 2025, alimentadas por aumento nas compras chinesas e queda de participação americana.
● No segmento de carne, em setembro de 2025, as exportações brasileiras de carne bovina para a China subiram 38,3%, mesmo com tarifas elevadas impostas pelos EUA ao produto.
● Por outro lado, os EUA tentam reagir com subsídios agrícolas, pressões diplomáticas e tentativas de reabrir mercados fechados – mas enfrentam obstáculos políticos e retaliações.
Indicadores recentes que apontam tendências
Crescimento das importações chinesas de soja
1. As importações chinesas de soja em setembro de 2025 atingiram 12,87 milhões de toneladas, alta de 13,2% ano a ano, impulsionadas por compras da América do Sul, sobretudo do Brasil. A China parece estar reduzindo sua dependência dos EUA nesse segmento, beneficiando exportadores alternativos.
Estagnação das exportações da China para os EUA
2. Em setembro, as exportações chinesas para os EUA caíram 27% ano a ano, refletindo tensões crescentes. Porém, as exportações globais de China continuaram crescendo (8,3%). Isso sugere que a China está buscando rotas alternativas de exportação e importação, menos centradas nos EUA.
Recordes agrícolas brasileiros e tensão logística
3. O Brasil enfrenta desafios logísticos: com produção recorde, a estrutura portuária e de transporte (ferrovias, modais interiores) é pressionada para suportar o volume exportável. Em setores estratégicos, empresas brasileiras estão diversificando exportações e fortalecendo rotas estratégicas para a Ásia.
Impactos setoriais adversos e riscos sanitários
4. Questões como surtos de influenza aviária têm levado a suspensões temporárias de importações chinesas de frango brasileiro. Isso reforça que, além da quantidade, qualidade sanitária e confiabilidade são fatores decisivos para manutenção de contratos.
Interpretação estratégica e riscos para o Brasil
● O Brasil está surfando uma maré favorável: elevada produção, desvantagem comercial dos EUA com a China e demanda global por commodities.
● Mas isso não garante estabilidade automática. A dependência excessiva de um único comprador (China) concentra risco: qualquer mudança nas políticas chinesas de importação, variação cambial local ou decisão estratégica pode afetar profundamente as receitas.
● Os EUA não aceitarão passivamente sua perda de participação; novas políticas agrícolas, subsídios e políticas comerciais protecionistas podem surgir.
● A infraestrutura logística e a política doméstica (meio ambiente, crédito rural, fiscalização sanitária) serão os determinantes da resiliência exportadora brasileira.
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