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Guarapuava perto ou longe do radar: Foz e Curitiba avançam em projetos de modernização logística

O avanço de Foz e Curitiba não é apenas reflexo de obras físicas, mas de um modelo de governança que alia Estado, empresas e planejamento de longo prazo

27/10/2025
Guarapuava, com sua localização estratégica, tem potencial para se tornar o elo logístico do centro do Paraná – se souber transformar sua necessidade de voar em um projeto de desenvolvimento regionalGuarapuava, com sua localização estratégica, tem potencial para se tornar o elo logístico do centro do Paraná – se souber transformar sua necessidade de voar em um projeto de desenvolvimento regional

Os recentes investimentos que transformaram Foz do Iguaçu e Curitiba em referências de infraestrutura aérea e logística abriram uma nova fronteira de desenvolvimento no Paraná. Com pistas ampliadas, terminais modernizados e integração regional, as duas cidades consolidam um modelo de hub logístico que vem redefinindo o mapa da competitividade paranaense. Agora, Guarapuava observa esses exemplos como bússola: se quiser se inserir nessa tendência de modernização, precisará decidir entre ampliar sua estrutura atual ou projetar um novo aeroporto regional, capaz de sustentar ambições maiores.

Nos últimos anos, o Estado tem apostado pesado em infraestrutura de longo prazo. No Norte, Londrina e Maringá, a menos de 100 quilômetros de distância de uma para outra, expandem individualmente projetos e negócios de grande porte, numa intensidade tal que todas as cidades do entorno se inspiram em modelos similares. Exemplos como esses, que movimentam uma máquina de iniciativas em várias áreas – inclusive no segmento da inovação e das universidades, conectadas à linguagem contemporânea –, são canais poderosos de transformação social. E se multiplicam em diversos cantos do Paraná.

No Oeste, o aeroporto de Foz do Iguaçu, com pista agora de 2,7 mil metros, tornou-se apto a receber aeronaves de grande porte e novas rotas internacionais. A mudança já rendeu frutos: voos diários da Azul entre Foz e São Paulo (Congonhas) entraram em operação neste mês, com jatos Embraer E2 para 136 passageiros, e também com voos diretos para Brasília, pela Latam. Já Curitiba, com o Aeroporto Afonso Pena consolidado como um dos mais movimentados do país, vem se firmando como eixo de distribuição logística, conectado às principais rodovias e ao Porto de Paranaguá.

Guarapuava, no coração do Estado, tenta agora encontrar seu caminho. O município planeja ampliar a pista do Aeroporto Tancredo Thomas de Faria, de 1.200 para 1.800 metros, em uma tentativa de atrair de volta voos regulares para São Paulo e Curitiba – ligações que deixaram de existir desde setembro, quando a Azul encerrou suas operações com aeronave turboélice ATR72. A obra, ainda em fase de estudo de viabilidade técnica, conduzida em parceria entre a prefeitura e entidades empresariais, é vista como um passo necessário, mas ainda há sérias dúvidas se atenderá às exigências do mercado aéreo e logístico.

Para alguns segmentos da sociedade guarapuavana, a proposta encabeçada pela Associação Comercial (ACIG) e Fiep, é uma solução imediata, mas não estrutural. O sítio atual do Aeroporto Tancredo Thomas de Faria é limitado, cercado por áreas urbanas e sem espaço para expansão logística. Para entrar no novo mapa de desenvolvimento estadual, Guarapuava precisaria pensar em um novo projeto, com vocação regional e de longo prazo.

Essa visão inspira uma proposta alternativa, atualmente encampada pela direção da Câmara Municipal: a construção de um novo aeroporto regional, com pista entre 2.500 e 2.800 metros, pensado para operar tanto com passageiros quanto com cargas. O novo sítio seria implantado em uma área estratégica, próxima a rodovias e novas zonas industriais, e teria espaço suficiente para terminais de armazenamento, pátios de caminhões e integração com futuras linhas ferroviárias – configurando um verdadeiro hub logístico regional no Centro-Sul do Paraná.

Guarapuava nasceu, dois séculos atrás, com uma região estratégica para consolidação econômica e social do Paraná. No entanto, novas regiões, muitas delas surgidas a partir do território guarapuavano original, estão bem mais estruturadas e se modernizam a cada ciclo

Entre o voo e o solo: o desafio da viabilidade

Apesar do consenso em torno da importância estratégica, o desafio de Guarapuava está na viabilidade econômica. Para que companhias aéreas operem jatos de maior porte – a exemplo do que Foz do Iguaçu, com aeronave para no mínimo 126 passageiros e pista de 2,7 mil metros – é preciso mais do que pista e terminal: é necessário demanda constante e escala comercial.

Não se trata apenas de infraestrutura, mas de sinergia econômica. Foz só decolou de verdade porque o investimento veio junto com o turismo internacional e a integração logística, sem contar a existência de uma Itaipu Binacional.

Guarapuava não dispõe dessa mesma estrutura, mas não é investindo em situações limitadoras, como o atual aeroporto, que conseguirá avançar com projetos que são determinantes para acompanhar o ritmo de outras regiões. Além da expansão de sua base industrial, terá que encontrar novas alternativas para aproveitar a mão de obra qualificada que forma anualmente nas universidades locais – e, certamente, essas soluções virão das próprias instituições universitárias, se investirem em pesquisa e extensão.

O sucesso de Foz e Curitiba está menos na obra em si e mais no planejamento integrado — algo que Guarapuava ainda tenta consolidar. Foz uniu Itaipu Binacional, o Governo do Estado e o setor privado em uma mesma estratégia. Curitiba, por sua vez, desenvolveu políticas consistentes de transporte, conectividade e integração com o Porto de Paranaguá. O resultado é um ecossistema logístico coeso, que hoje movimenta milhões de passageiros e toneladas de carga com eficiência.

Perto de Foz, a 140 quilômetros, está Cascavel e, ao seu lado, cidades como Toledo, região que cresce com pesados investimentos públicos e privados.

Guarapuava e o tempo das decisões

A 162 quilômetros de Guarapuava, Ponta Grossa já se conectou a essa realidade e avança com investimentos milionários em gigantes plantas industriais. E uma das respostas do poder público é o projeto de um novo aeroporto com pista de até 2.800 metros e Cascavel amplia sua estrutura para cargas agrícolas, Guarapuava corre contra o tempo para definir sua estratégia. O dilema é claro: investir na ampliação de um aeroporto limitado ou apostar em um novo empreendimento que possa reposicionar a cidade como polo central de um corredor logístico estadual, servindo um raio de 200 quilômetros e municípios vizinhos.

Mais do que uma decisão técnica, trata-se de uma escolha de futuro. O Paraná, que hoje desponta como um dos estados mais dinâmicos em infraestrutura e inovação, mostra que as cidades que planejam com visão integrada colhem resultados duradouros. Foz e Curitiba já provaram isso – e Guarapuava, se quiser acompanhar, precisa fazer o mesmo.

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