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Pitanga sai na frente e transforma paisagem urbana com avanço das obras na PR-466

Cidade da região central do Paraná se destaca como principal beneficiária indireta de um ambicioso projeto rodoviário estadual, que começa a redesenhar fluxos econômicos e empresariais no eixo Guarapuava–Pitanga.

24/10/2025
Obra de duplicação em Pitanga está apenas no começo, mas o setor empresarial local já sentiu o potencial e investe em uma nova área de negócios Obra de duplicação em Pitanga está apenas no começo, mas o setor empresarial local já sentiu o potencial e investe em uma nova área de negócios

As obras de duplicação e modernização da PR-466, uma das rodovias mais estratégicas do Centro-Sul do Paraná, começaram a produzir efeitos distintos nos municípios que cortam seu traçado. Embora Guarapuava concentre o maior volume técnico das intervenções – especialmente no trecho entre o perímetro urbano e o distrito de Palmeirinha –, é Pitanga que mais sente os reflexos econômicos e urbanísticos do projeto.

A transformação é visível. O município de 34 mil habitantes, tradicionalmente agrícola e de pequeno porte industrial, tem registrado aumento na instalação de galpões e empreendimentos logísticos próximos ao novo traçado da rodovia. O que antes era um eixo de passagem está se tornando um corredor de atração para novas empresas, impulsionado pelo avanço físico das obras e pela perspectiva de maior integração regional.

Projeto de duplicaçação da PR-466 segue em dois eixos: Pitanga-Turvo (fotos acima), que causa mais impacto, com retorno empresarial; e no sentido contrário, Guarapuava-Palmeirinha-Turvo, que, embora com obras mais adiantadas e com indústrias de porte no trajeto, ainda não teve o mesmo efeito provocado em Pitanga

O Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER/PR) confirma que a duplicação da PR-466 entre Pitanga e Turvo já atingiu 5,46% de execução, num total de 45,5 quilômetros e investimento de R$ 514,2 milhões. Apesar do percentual modesto, os impactos em Pitanga são mais imediatos que em outras cidades.

O ponto de maior intervenção está no entroncamento entre a PR-466, a PR-239 e a PR-460, onde uma rotatória foi interditada para construção de um viaduto do tipo “Diamante”. A estrutura, projetada para suportar o aumento do tráfego pesado, prevê quatro faixas elevadas e uma passagem inferior conectando os principais acessos regionais. O desenho do novo entroncamento tem alterado a dinâmica da cidade, atraindo negócios e pressionando o poder público local por uma política de ordenamento urbano.

Em Guarapuava, as obras de duplicação se concentram entre o bairro Cidade dos Lagos e o distrito de Palmeirinha, num trecho de cerca de 12 quilômetros. A região, dominada por grupos industriais como Repinho, Millpar e Agrogen, mantém perfil consolidado e não demonstra expansão além de projetos já definidos. Mais adiante, no sentido Turvo, o DER trabalha na restauração do pavimento asfáltico – em concreto – ao longo de 22 quilômetros, com apenas 3% de avanço.

A usina de etanol à base de milho da Coamo em construção em Campo Mourão e o trecho Guarapuava-distrito de Palmeirinha em construção (fotos acima), traçado que abriga uma nova planta industrial do setor madeireiro, do grupo Repinho: indústria com potencial agregador para gerar renda, empregos e tributos

■ Risco para Guarapuava é continuar sendo produtor de milho in natura e apenas um corredor de cargas

Um desenvolvimento ainda sem política

Apesar dos números expressivos e do aporte total de R$ 1,44 bilhão em obras rodoviárias na região central, há a ausência de uma política coordenada de desenvolvimento. O avanço da infraestrutura não tem sido acompanhado por programas oficiais de estímulo industrial ou logístico em escala regional.

Em entrevista ao Portal Paraná Central, o prefeito de Turvo, Marcos Seguro, admitiu que há possibilidade de destinar uma área de 10 hectares para um parque industrial ao longo da PR-466. “É possível”, disse. Mas a resposta reflete mais uma intenção do que um plano: não há, até agora, nenhum projeto técnico ou investimento estruturado para o setor.

Em Guarapuava, a Câmara Municipal tenta preencher essa lacuna. Com apoio de legislativos vizinhos, lançou uma proposta de programa regional de desenvolvimento, que integra pesquisas universitárias, estudos sobre infraestrutura, eixos de transporte, modernização da ferrovia (com 71 anos de existência e ultrapassada) e um novo aeroporto de cargas e passageiros. A iniciativa, ainda embrionária, busca transformar o atual ciclo de obras em um vetor duradouro de competitividade.

Novo corredor industrial se desenha

Com a duplicação da PR-466 avançando em direção a Pitanga, abre-se um eixo rodoviário moderno que aproxima a região de Campo Mourão, no Centro-Oeste do Estado – município de cerca de 100 mil habitantes que se prepara para receber um dos maiores investimentos industriais do interior do Paraná.

A cooperativa Coamo Agroindustrial está construindo ali uma usina de etanol de milho avaliada em R$ 1,7 bilhão, com capacidade para processar 1,7 mil toneladas de grãos por dia e produzir 765 mil litros diários de etanol. A operação está prevista para o segundo semestre de 2026 e promete reconfigurar as cadeias produtivas regionais, integrando logística, agroindústria e geração de energia renovável.

Esse novo polo de transformação industrial deve movimentar toda a produção de milho da região – incluindo a de Guarapuava, que hoje registra o maior índice de produtividade da cultura no Paraná. No entanto, sem um projeto de desenvolvimento industrial articulado, Guarapuava corre o risco de se tornar apenas um corredor de armazéns e de transporte de matéria-prima in natura. O valor agregado da produção, que gera empregos qualificados e tributos, tende a se concentrar em Campo Mourão.

A viabilidade de um plano integrado de desenvolvimento se torna ainda mais evidente diante dos movimentos privados em curso. No trecho entre o bairro Cidade dos Lagos e Palmeirinha, por exemplo, está em construção uma nova planta industrial da Repinho, voltada à fabricação de painéis MDP, para o setor moveleiro. O empreendimento promete ser um dos mais modernos da América Latina em seu segmento, com alto nível de automação.

Planejamento regional como imperativo

A modernização da PR-466 e a prometida duplicação da PR-170 (entre a BR-277 e o distrito de Entre Rios, em Guarapuava), ou até mesmo a (questionável) reforma do atual Aeroporto Municipal, já oferecem as bases físicas como princípio de um hub logístico e industrial regional. Mas a falta de coordenação estratégica, técnica e científica, ameaça reduzir o potencial de crescimento a benefícios isolados.

A região central do Paraná reúne uma rara combinação de vantagens: produção agroindustrial diversificada, acesso facilitado a mercados do Sul e Sudeste e uma malha rodoviária em modernização. O desafio é transformar a infraestrutura em desenvolvimento econômico sustentável – e não apenas em fluxo de cargas.

Pitanga não deixa de ser um laboratório dessa transição. Se Guarapuava e outros municípios seguirem o mesmo caminho, o interior paranaense poderá inaugurar uma nova fase de integração econômica – uma rota industrial e logística capaz de equilibrar competitividade, emprego e inovação no coração do Estado.

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