Na discreta e festiva Colônia Vitória, distrito de Entre Rios – berço da imigração suábia no Brasil e lar da poderosa Cooperativa Agrária –, uma celebração tradicional da cultura cervejeira paranaense, a Festa da Cevada, na noite deste sábado (18), deve se torpalco de um anúncio aguardado há meses nos bastidores da agroindústria: a confirmação oficial da ampliação da maltaria Agromalte e da construção de uma fábrica de maltes especiais. O empreendimento, fruto de uma joint venture entre a Agrária e a alemã Ireks, representa um marco bilionário no setor – um investimento de R$ 1,1 bilhão que pode reposicionar o Paraná no mapa global da indústria cervejeira.

Com a presença confirmada do governador Carlos Massa Ratinho Júnior, a tradicional Festa da Cevada, regada a chope e anchova, transforma-se também em um ato político-econômico: a consolidação do Paraná como maior polo nacional de produção de cevada e, agora, de malte especial – insumo crucial para cervejarias artesanais e premium.

O possível anúncio deste sábado sela um acordo que começou a ganhar forma oficialmente em novembro de 2023, quando o governador Ratinho Júnior liderou uma missão empresarial à Alemanha. Entre reuniões diplomáticas e visitas técnicas, uma pauta se destacou: a ampliação da histórica parceria entre a Agrária e a Ireks, já consolidadas no setor de panificação, para o segmento cervejeiro. O ato governamental era o apoio que os empresários precisavam para efetuar o empreendimento.

Na ocasião, foi assinado um protocolo de intenções entre o Governo do Paraná, a Agrária e a Ireks. O acordo – com a inclusão do projeto no programa estadual de incentivos fiscais – acabou não se concretizando no tempo planejado, mas, agora, todas as expectativas se voltam para a Festa da Cevada.

Assinatura do termo de cooperação entre o Governo do Estado, Ireks e Agrária, em novembro de 2023, na Alemanha

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Visita a Alemanha consolida indústria de malte da Ireks em Entre Rios

A planta industrial será erguida em Guarapuava, no coração do Centro-Sul paranaense, e começará a ser construída no primeiro trimestre de 2026.

O cronograma prevê início de operação em 2028. Serão gerados cerca de 400 empregos diretos e indiretos, segundo estimativas da cooperativa.

A importância do malte especial 

Ao contrário do malte comum, usado em larga escala por grandes cervejarias, o malte especial é ingrediente-chave em cervejas artesanais e estilos premium – um nicho em franca expansão no Brasil. Atualmente, quase todo o malte especial utilizado pelas microcervejarias brasileiras é importado da Europa, com custos elevados e logística complexa.

A Ireks, fundada em 1856 na Baviera, é uma das líderes mundiais na produção de insumos para panificação e malte. Sua entrada definitiva no setor cervejeiro brasileiro representa um passo estratégico diante da crescente demanda por ingredientes premium no país e na América Latina.

A multinacional já é parceira da Agrária com uma indústria de panificação, el área contígua à da Agromalte, na Colônia Vitória. 

Agrária entre a cevada, o malte e o frango

O novo projeto com a Ireks é apenas uma das apostas da Agrária para os próximos anos. Em paralelo, a cooperativa prepara o lançamento de um sistema integrado de avicultura que deve agregar uma nova fonte ao seu modelo produtivo. Inspirado nos grandes grupos do setor, como JBS e BRF, o projeto prevê a criação de uma cadeia verticalizada com granjas, frigoríficos e rede própria de distribuição, envolvendo seus mais de 600 cooperados.

Para dar suporte às granjas, além de ensinamentos técnicos aos cooperados e tecnologia de última geração nos aviários, a cooperativa dispõe de fábrica de ração.

Com faturamento anual superior a R$ 8 bilhões, a Agrária tem se reposicionado nos últimos anos como um dos principais players da agroindústria nacional. A diversificação de áreas faz parte de uma estratégia de mitigação de riscos diante de um mercado global cada vez mais volátil.

Maltaria Campos Gerais em Ponta Grossa, que tem a participação societária da Cooperativa Agrária 

Na rota do malte

Enquanto a nova planta com a Ireks tende a sair do papel, outro projeto envolvendo a Agrária e cinco cooperativas paranaenses se aproxima da maturidade: a Maltaria Campos Gerais, em Ponta Grossa. Com investimento superior a R$ 1,6 bilhão, fábrica já está a todo vapor, ajudando a consagrar o cenário econômico de Ponta Grossa e região. 

Para Ponta Grossa, que é sede de cervejarias e outras indústrias de grande porte, a produção de malte já não é mais uma etapa final: virou vetor de desenvolvimento regional. E as estimativas indicam que os Campos Gerais devem passar Guarapuava, hoje considerada a capital nacional da cevada e do malte. 

Para isso, a contribuição dos herdeiros da cultura suábia, exímios agricultores do antigo Império Austro-Húngaro, no Leste Europeu, está sendo decisiva. O mesmo vale para os investimentos em Guarapuava, município que acolheu os imigrantes a sete décadas.

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