Caso de racismo em jogo do Batel volta a ter repercussão nacional após TJD-PR punir vítima com pena maior que agressor
Julgamento no Paraná evidencia contradições na aplicação das leis esportivas e o desafio de punir o racismo sem revitimizar quem sofre a agressão
22/10/2025
PV, agredido com palavras racistas, acabou pegando três jogos mais de punição que Diego, o agressor. TJD levou em conta o violento soco de PV contra o rosto de DiegoO caso de racismo registrado no jogo entre Batel e Nacional pela Taça FPF voltou a repercutir nacionalmente, após o Tribunal de Justiça Desportiva do Paraná (TJD-PR) punir o jogador que foi vítima da injúria racial com uma pena mais severa que a imposta ao agressor. A decisão impôs ao zagueiro Paulo Vitor, o PV, do Nacional, dez jogos de suspensão e multa de R$ 2 mil – três partidas a mais do que o volante Diego, do Batel, autor do insulto racista, que recebeu sete jogos de suspensão e a mesma multa.
O episódio ocorreu no dia 4 deste mês, no Estádio Waldomiro Gelinski, em Guarapuava, durante uma partida decisiva pela Taça Federação Paranaense de Futebol, que garantiu ao Batel a vaga nas quartas de final após vitória por 1 a 0. No segundo tempo, após uma disputa dentro da área, Diego teria chamado PV de “macaco”. O jogador do Nacional reagiu com um soco, derrubando o adversário, que precisou de atendimento médico. O árbitro, Diego Ruan Pacondes da Silva, registrou o caso em súmula e acionou o protocolo antirracismo da FIFA, interrompendo a partida por cerca de 18 minutos.
Durante o julgamento, que se estendeu por mais de quatro horas, a defesa de Diego alegou que ele teria dito “malaco”, não “macaco”. A explicação, no entanto, foi rejeitada pelos auditores. Ainda assim, o tribunal considerou a agressão física de PV mais grave, somando as punições por conduta violenta e uma suposta cusparada, negada pelo atleta.
A decisão final do Tribunal, com a punição maior a PV, provocou indignação entre torcedores, juristas e comentaristas esportivos, reacendendo o debate sobre a forma como o futebol brasileiro lida com episódios de racismo e a reação das vítimas. “Parece que o sistema ainda pune mais a resposta do oprimido do que a ofensa que o provoca”, escreveu um colunista esportivo em comentário nas redes.
Uma imagem que circulou em redes sociais mostra o momento em que PV teria cuspido em Diego, o que teria motivado a agressão racial. A autenticidade ou montagem da foto, com técnicas de recursos visuais, não tiveram peso na decisão do TJD, que considerou a agressão física maior que qualquer outro ato de violência
PV, em publicação após o jogo, já havia expressado frustração com o ocorrido. “Não sou a favor da violência, mas parece que só assim eles sentem na pele. Quem é da cor vai entender minha reação. Espero que a justiça seja feita e que casos como esse não sejam julgados como vitimismo. Fogo nos racistas”, escreveu o jogador.
O Batel, logo após a partida, anunciou o desligamento de Diego, que era emprestado do Laranja Mecânica. Em nota, o clube afirmou “repudiar veementemente qualquer forma de preconceito” e disse manter “compromisso com o respeito, a igualdade e os direitos humanos”. A Federação Paranaense de Futebol (FPF) também condenou o ato e reforçou que mantém campanhas permanentes de combate ao racismo nos estádios.
O presidente do Batel, Leonardo Mattos Leão, voltou a reiterar a posição do clube, contrário a qualquer tipo de violência, física ou racista, classificando a ação entre os dois jogadores como um "lamentável episódio".
A decisão do TJD, no entanto, expôs um dilema jurídico e moral que ultrapassa os limites do campo. Enquanto o protocolo internacional recomenda tolerância zero à injúria racial, a penalização mais severa da vítima lança dúvidas sobre a efetividade das medidas antirracistas no futebol brasileiro.
Especialistas em direito esportivo e direitos humanos consultados por veículos nacionais apontaram que o caso ilustra uma falha estrutural: “O futebol ainda trata o racismo como parte do jogo, e não como um crime que desumaniza. O tribunal deveria ter reconhecido o contexto da reação, não equiparado ofensa e resposta”, disse um advogado ouvido pela imprensa.
O episódio, que repercutiu em veículos como CNN Brasil, ge.globo e UOL, volta a colocar Guarapuava e o futebol paranaense no centro de uma discussão que o esporte brasileiro insiste em adiar: até que ponto a justiça desportiva está preparada para lidar com o racismo sem revitimizar quem o sofre.
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