Paraná reconfigura rede de hospitais universitários, e Guarapuava fica de fora
Só depende de uma decisão política do governo do Estado
18/11/2025
Hospital Regional é deficitário (não atende de "portas abertas"), ao mesmo tempo em que Guarapuava é a única cidade do Paraná com curso de medicina público (Unicentro) e sem Hospital Universitário A reestruturação dos hospitais universitários do Paraná avança com novo respaldo político e financeiro, mas um vazio geográfico e institucional persiste no Centro-Sul do Estado: Guarapuava, sede da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) e de um dos cursos de Medicina mais concorridos do Paraná, continua sem um hospital universitário. É hoje a única região paranaense nessa condição – e essa ausência tem implicações que vão muito além da academia.
A demanda por mais leitos hospitalares e por especialidades médicas em Guarapuava não é nova. Nos últimos anos, gestores municipais e estaduais reconheceram o déficit assistencial regional – especialmente em áreas de alta complexidade, que dependem de deslocamentos até Cascavel, Ponta Grossa ou Curitiba.
Mesmo assim, o Hospital Regional de Guarapuava permanece classificado apenas como unidade administrada pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) em convênio com a Unicentro – um arranjo que fornece apoio ao ensino, mas sem as prerrogativas, o financiamento dedicado ou a autonomia acadêmico-assistencial de um hospital universitário.
Para estudantes de medicina, essa condição representa uma lacuna crítica: sem um HU, parte expressiva da formação, da pesquisa e das residências médicas depende de acordos temporários com outros municípios. Para a população, significa filas mais longas, dependência de vagas em cidades vizinhas e menor acesso a tecnologias de ponta.
Mobilização estudantil cresce, Mas encontra resistência no Palácio Iguaçu
Nos últimos dois anos, um movimento estudantil organizado na Unicentro intensificou pressões para a transformação do Hospital Regional em Hospital Universitário. Os alunos argumentam que a estrutura física existente teria condições de receber a mudança de categoria, desde que acompanhada de investimentos e de uma readequação de governança.
A proposta, porém, não prosperou.
Segundo lideranças estudantis, múltiplos documentos, abaixo-assinados e solicitações formais foram enviados ao governo estadual. Todos sem resposta. Fontes próximas à administração da universidade afirmam que o tema sequer alcançou análise técnica no Palácio Iguaçu. Para pesquisadores em políticas públicas de saúde, o silêncio do governo é “inexplicável do ponto de vista técnico e insustentável do ponto de vista político”.
Como consequência, Guarapuava segue às margens da política estadual para hospitais universitários – mesmo sendo polo educacional para 20 municípios e responsável por formar parte expressiva dos profissionais de saúde que atuam no centro-sul paranaense.
Guarapuava fica trás, mais uma vez
Nesta segunda-feira (17), o governo encaminhou à Assembleia Legislativa dois projetos de lei que redesenham a governança dos hospitais universitários estaduais. São propostas que reforçam o papel dessas instituições na rede pública de saúde e buscam evitar a fragmentação da gestão entre ensino, pesquisa e assistência.
Hoje, o Paraná conta com quatro hospitais universitários plenos:
- HU/UEL (Londrina),
- HU/UEM (Maringá),
- HUOP/Unioeste (Cascavel),
- HU/UEPG (Ponta Grossa).
Durante a pandemia, esses hospitais foram decisivos: mais de 300 leitos de UTI foram adicionados e mantidos como estrutura permanente após a crise sanitária.
A reforma proposta pelo governo aprofunda a integração entre Sesa, Seti e universidades e cria a Unidade de Monitoramento e Avaliação dos Hospitais Universitários (UMAHU), responsável por acompanhar orçamentos, autorizar expansões e avaliar contratos. Também atualiza regras de plantões docentes, ampliando a cobertura assistencial e permitindo a participação de professores temporários em escalas de plantão.
A nova regra que pode travar ainda mais Guarapuava
Embora os projetos de lei não tratem diretamente da criação de novos hospitais universitários, um item chama a atenção: qualquer nova unidade deverá obter aprovação expressa da Sesa, que controlará critérios técnicos, financeiros e assistenciais.
Na prática, isso formaliza um filtro político-administrativo já existente – e cria uma camada adicional de controle sobre iniciativas como a da Unicentro.
Enquanto os quatro hospitais universitários ganham estrutura normativa reforçada, a eventual elevação do Hospital Regional de Guarapuava ao status de HU torna-se ainda mais dependente da disposição do governo em rever sua política regional para a saúde e o ensino superior.
Impactos reais: pesquisa, formação e atendimento ficam comprometidos
A ausência de um hospital universitário produz efeitos que se acumulam ao longo dos anos.
Na formação médica – Sem um HU, estudantes têm menos acesso a cenários clínicos integrados ao ensino, a programas de residência próprios e a projetos permanentes de pesquisa aplicada. Muitos acabam concluindo a formação em outros municípios — e nem sempre retornam.
Na pesquisa científica – Projetos de inovação em saúde, ensaios clínicos e iniciativas de extensão ficam limitados pela ausência de infraestrutura adequada e de vínculos formais entre universidade e hospital.
No atendimento à população – A região depende de vagas em hospitais de cidades vizinhas. Isso aumenta a pressão sobre o sistema e reduz a capacidade de resposta local a surtos, acidentes e doenças de alta complexidade.
Decisão que carrega custo político e humano
Para especialistas, a falta de avanço na criação de um HU em Guarapuava não é apenas uma questão de prioridade administrativa. Ela revela uma desigualdade regional que permanece invisível nas decisões estaduais.
Guarapuava, apesar de seu porte populacional, do crescimento econômico e do papel estruturador da Unicentro, continua fora do eixo estratégico da política hospitalar universitária. Em um Estado que reforça a importância de hospitais de ensino para qualificar o SUS, a exclusão se torna difícil de explicar e ainda mais, de justificar.
Enquanto isso, médicos em formação, pesquisadores e milhares de pacientes vivem os efeitos diretos de uma decisão – ou de uma ausência de decisão – que molda a saúde pública da região.
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