Política > 8 DE JANEIRO

Brasília "ferve", e o cerco ao bolsonarismo se fecha cada vez mais

Nível de tensão sobe com proximidade do 2 de setembro, início do julgamento do "núcleo 1" da trama golpista

20/08/2025
Eduardo, Bolsonaro e Malafaia: ações ostensivas do SupremoEduardo, Bolsonaro e Malafaia: ações ostensivas do Supremo

A quarta-feira em Brasília foi marcada por um triplo impacto – indiciamento de Jair e Eduardo Bolsonaro, operação contra Silas Malafaia e a descoberta de provas que reforçam suspeitas de fuga e negociação política por parte do ex-presidente. O cerco jurídico e político se fecha a menos de duas semanas do início do julgamento que pode redefinir o destino do bolsonarismo.

As últimas horas foram uma das jornadas mais intensas desde a abertura das investigações sobre a trama golpista. Em um único dia, a Polícia Federal, o Supremo Tribunal Federal (STF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR) revelaram novos desdobramentos que ampliam a rede de acusações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, seu filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e aliados próximos, principalmente o pastor Silas Malafaia.

A Polícia Federal concluiu o inquérito que apurava a articulação de Eduardo Bolsonaro junto ao governo Donald Trump para pressionar autoridades brasileiras. Jair e Eduardo foram formalmente indiciados por coação no curso do processo e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito.

Segundo o relatório, Eduardo atua nos bastidores da Casa Branca para estimular medidas de retaliação contra o Brasil, incluindo o tarifaço de 50% imposto recentemente pelos EUA, as sanções contra o ministro Alexandre de Moraes via Lei Magnitsky e uma investigação contra o Pix. O ex-presidente é acusado de financiar a estadia do filho nos EUA por meio de transferências via Pix, parte de uma estratégia para enfraquecer a Justiça brasileira.

Pastor Silas Malafaia: campanha pública contra ministros do Supremo e agora, acusado formalmente de "coação" para prejudicar processo de julgamento de Jair Bolsonaro

Malafaia sob suspeita 

Paralelamente, o ministro Alexandre de Moraes determinou busca e apreensão contra o pastor Silas Malafaia, aliado de Bolsonaro. O celular do religioso foi apreendido no Aeroporto do Galeão, e ele teve o passaporte cancelado.

A decisão se baseou em diálogos encontrados pela PF que apontam Malafaia como “orientador e auxiliar” de ações de pressão sobre o Supremo. Para a PGR, o pastor integra o núcleo responsável por difundir narrativas falsas e definir estratégias de coação contra ministros da Corte.

Texto atribuído ao ex-presidente Jair Bolsonaro, como tentativa de pedir asilo político ao presidente argentino, Javier Milei

Novos elementos explosivos 

Dois achados pela PF intensificaram ainda mais o cenário:

Pedido de asilo a Javier Milei – Em seu celular, Bolsonaro guardava um documento de 33 páginas, redigido em 2024, no qual cogitava pedir refúgio político ao presidente argentino. O texto alega “perseguição política” no Brasil e foi atualizado dias antes da viagem do ex-presidente a Buenos Aires para a posse de Milei. Para investigadores, o rascunho demonstra uma preparação para fuga.

Áudio ligando anistia a tarifas – Uma gravação obtida pela PF mostra Bolsonaro dizendo a Malafaia que só haveria negociação com os EUA sobre tarifas se o Congresso votasse a anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro. A fala sugere uma tentativa de barganhar interesses internacionais em troca de medidas que favorecessem os réus da trama golpista.

Além disso, a PF apontou que Bolsonaro transferiu R$ 2 milhões para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro um dia antes de prestar depoimento. A operação não foi declarada e levanta suspeitas de blindagem patrimonial.

O julgamento que se aproxima 

Esses movimentos acontecem às vésperas do julgamento mais aguardado do ano: no dia 2 de setembro, o Supremo julgará Bolsonaro e outros sete ex-integrantes de seu governo – entre eles Augusto Heleno, Braga Netto e Anderson Torres – acusados de liderar a organização criminosa que tentou reverter o resultado das eleições de 2022.

Se condenados, podem enfrentar penas pesadas por crimes como golpe de Estado, organização criminosa armada e dano ao patrimônio público.

Impacto político 

A sucessão de revelações pressiona não apenas Bolsonaro, mas também o Congresso. Eduardo Bolsonaro já enfrenta pedido de cassação na Comissão de Ética da Câmara, protocolado pelo presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos), após representações do PT e do PSOL.

No tabuleiro internacional, a crise agrava as relações com os EUA e expõe a aproximação entre Bolsonaro e Javier Milei como possível rota de fuga.

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