A Mega-Sena no Brasil dos quase-milionários

Em algum canto do Brasil – talvez uma lotérica no interior de Goiás, talvez um aplicativo aberto num celular rachado de tela – alguém respira fundo antes de apertar “confirmar aposta”. O bilhete, digital ou de papel, é mais do que um amontoado de seis números: é um bilhete de saída. Uma senha para a promessa do outro lado da vida, onde as contas deixam de vencer e os boletos perdem a validade.

Na noite de terça-feira (21), essa senha não veio. Nenhum apostador acertou as seis dezenas do concurso 2.930 da Mega-Sena: 01, 11, 13, 14, 36 e 45 – números que, por algumas horas, pareceram capazes de mudar destinos. O prêmio acumulou. E agora, o país inteiro gira em torno de um novo número: R$ 85 milhões.

Oito e cinco milhões de reais. Sete dígitos e meio de esperança. O suficiente para comprar uma fazenda, um iate e, ainda assim, continuar tendo medo de perder tudo. O suficiente para acreditar que o azar é coisa dos outros.

No site da Caixa, o cronômetro já corre. As apostas seguem até as 19h de quinta-feira (23). A aposta simples, com seis dezenas, custa R$ 6. Uma moeda que parece nada – até o momento em que vira 85 milhões.

Enquanto isso, 70 brasileiros – os que acertaram cinco dezenas – receberam R$ 40.435,71. Um valor que paga dívidas, mas não muda a vida. Outros 5.175 apostadores levaram R$ 901,57: o suficiente para sentir o gosto do quase.

O Brasil vive de quase. Quase rico, quase tranquilo, quase milionário. Em cada esquina, um sonhador com a nota de seis reais na mão, tentando converter sorte em aritmética.

E quando o sorteio acontecer, na quinta-feira, milhões vão acompanhar os números subindo um a um, torcendo para que o 14 venha depois do 13, que o 45 feche a sequência. E, por alguns segundos, o país inteiro será uma só respiração suspensa – entre o que se é e o que se poderia ter sido.

Depois, os números serão anunciados. Alguém, talvez ninguém, acertará.

E o resto do país voltará à rotina, sonhando com o próximo sorteio.

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