MILTON LUIZ CLEVE KÜSTER
Advogado desde 1978, o guarapuavano radicou-se em Curitiba (PR) e Itapema (SC), sem nunca esquecer que "bebeu a água da Serra da Esperança".
Uma carta de amor à Terra do coração
Guarapuava me ensinou as quatro estações da alma
08/12/2025
Senador Pinheiro Machado, rua da Catedral Nossa Senhora de Belém (marco zero da cidade), por volta de 1960 (Imagem: arquivo Dirceu Dalmaz)Há datas que estão no calendário oficial, marcadas em vermelho, celebradas com discursos e fogos. E há outras no calendário secreto do coração, comemoradas com silêncio e memória.
Para mim, o dia 9 de dezembro é as duas coisas.
É o aniversário de Guarapuava. Mas é o dia de celebrar a parte mais profunda de quem sou. Porque Guarapuava não é apenas o lugar onde nasci; é o lugar que nasceu em mim.
Em uma cidade que hoje parece existir só em filmes de época ou nas fotografias em preto e branco guardadas em caixas de sapato. Uma Guarapuava de ruas de paralelepípedos, de quintais imensos onde o tempo passava lentamente, de crianças brincando soltas até o sol se pôr atrás das araucárias.
Cresci ouvindo que minha cidade era a "Pérola do Oeste", nome dado com carinho pelo meu trisavô, Luiz Daniel Cleve. Talvez por isso, desde cedo, aprendi a enxergar o brilho dessa terra, mesmo nos dias mais cinzentos.
E como eram cinzentos – e belos – os nossos invernos!
Lembro-me do frio que não era só uma temperatura, mas uma presença. O frio que cortava a pele, que desenhava fumaça na respiração, que cobria os campos de geada branca como se fosse neve. Mas lembro-me, sobretudo, de como esse frio nos ensinava a buscar o calor. Não o calor do sol, mas o calor humano. O calor dos fogões a lenha estalando nas cozinhas, o calor das conversas em família, o calor da solidariedade que sempre marcou nosso povo.
Guarapuava me ensinou as quatro estações da alma: a resistência do inverno, a esperança da primavera quando a cidade explodia em cores, a alegria do verão – tempo de aventuras nos rios, cachoeiras e piscinas – e a melancolia doce do outono, com suas folhas douradas cobrindo as calçadas.
Mas uma cidade não é feita apenas de clima e geografia; é feita de gente.
E que gente!
Ao fechar os olhos, vejo os rostos que construíram minha infância. Eram os vizinhos que se conheciam pelo nome e cuidavam uns dos outros. Eram os comerciantes da Rua XV, que davam vida ao nosso dia a dia – figuras inesquecíveis como o Seu Osvaldo Rocha, que com sua elegância vestia e veste a nossa gente, ou meu próprio pai, o "Poeta", que em sua loja de brinquedos trazia a magia do Natal para as crianças da cidade.
Eram os professores do primário e do ginásio, mestres que nos ensinaram muito mais que o bê-á-bá; ensinaram valores. Foram os amigos de joelhos ralados, companheiros de uma liberdade que agora é artigo de luxo.
Saí de Guarapuava jovem, levado pelos ventos do destino para estudar e construir a vida na capital.
Ela foi comigo na mala, em forma de sotaque e saudade. Em cada desafio que enfrentei na vida – e não foram poucos –, busquei a força daquela terra vermelha. Procurei a resiliência do pinheiro que enfrenta a tempestade sem quebrar. Busquei a dignidade daquele povo que me viu crescer.
Hoje, ao ver Guarapuava completar mais um ano, observo uma cidade transformada. Vejo prédios altos, avenidas movimentadas, semáforos, modernidade. O progresso chegou, como precisava chegar.
Mas, se olharmos com atenção, a essência permanece lá.
Está no vento que sopra nos campos. Reside na imponência da Catedral. Reflete no Lago, espelho da nossa alma. E, principalmente, manifesta-se no olhar do guarapuavano – um olhar franco, de quem sabe acolher, de quem tem orgulho de sua história.
Escrevo esta carta não com a tinta da caneta, mas com a tinta indelével da gratidão.
Obrigado, Guarapuava, por ter sido meu berço e minha escola. Agradeço por ter me dado raízes tão profundas que me permitiram voar para longe sem jamais me perder. Sou grato por ser, ontem, hoje e sempre, o meu porto seguro.
Parabéns, minha Pérola do Oeste. Que o futuro lhe traga tanta grandeza quanto a que você já possui no nome.
Com amor e saudade,
Milton Luiz Cleve Küster, um filho que nunca partiu de verdade.
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