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Um pássaro chamado Curucaca: nasce em Guarapuava um festival de cinema para ver o interior na tela

Evento reúne 138 filmes e busca consolidar município como polo de produção audiovisual no interior do Paraná

22/10/2025

Na plateia, estudantes de Comunicação, diretores amadores, professores e curiosos. No palco, o símbolo de um pássaro de pescoço longo e bico curvado — o curucaca, ave típica dos campos do Sul, que agora dá nome ao novo festival de cinema de Guarapuava. Mais do que um evento, o Festival de Cinema Curucaca quer ser um movimento: dar rosto, sotaque e visibilidade à produção audiovisual regional, muitas vezes confinada às gavetas dos editais e aos HDs pessoais.

Lançado oficialmente na noite de terça-feira (21), no cinema da Unicentro, o festival nasce de uma articulação que mistura sonho antigo, vontade coletiva e incentivo público. Idealizado pela Universidade Estadual do Centro-Oeste, em parceria com a UTFPR, a Fundação Cultural Suábio-Brasileira, a Prefeitura de Guarapuava e o Governo do Estado, o evento promete ocupar diferentes espaços da cidade entre os dias 3 e 7 de novembro com mostras, oficinas, debates e performances. Mas o ponto de chegada – e de partida – é claro: fazer o interior se ver na tela.

O lançamento do festival em cerimônia na Unicentro, nesta terça-feira

O agente regional de cultura do Paraná, Norbert Heinz, conta que o festival nasceu de um desejo coletivo dos municípios da região Centro-Sul. “Existia uma vontade de ter um espaço para exibir e premiar as produções locais. Foi daí que veio o Curucaca – um nome que foge dos clichês da araucária ou da gralha azul, e traz algo mais vivo, mais regional.”

Heinz levou a proposta à Unicentro, onde encontrou terreno fértil. O professor Francismar Formentão, do Departamento de Comunicação Social, diz que o projeto concretiza uma ideia guardada desde 2008, quando chegou à cidade. “Pensei: aqui daria um festival de cinema incrível. A ideia dormiu por um tempo, mas a Lei Paulo Gustavo reacendeu o fôlego e o contexto era perfeito.”

Da ideia ao resultado

O Curucaca chega à sua primeira edição com 138 filmes inscritos de todo o Paraná, que concorrem em 17 categorias – de curtas universitários a produções independentes e documentários comunitários. A cerimônia de premiação, marcada para o dia 7 de novembro, será no Centro Cultural Mathias Leh, em Entre Rios, reforçando o elo do evento com o território e suas múltiplas identidades.

O vice-diretor do câmpus Santa Cruz da Unicentro, Gilmar Szczepanik, resume a ambição do festival em uma frase: “Queremos que o cinema regional seja visto, discutido, apreciado – e reconhecido.”

O cinema como gesto político

Para além da vitrine artística, o festival se coloca como um ato político e cultural: descentralizar a produção audiovisual e criar um circuito fora do eixo Curitiba–São Paulo. A vice-prefeita Rosângela Virmond destacou o papel da Prefeitura em apoiar a iniciativa. “Não tem como esquecer o nome do Festival Curucaca. É um símbolo do nosso interior — e do nosso jeito de fazer cultura em parceria.”

Se der certo, o Curucaca pode se tornar o que o curucaca é para os campos do Sul: uma presença cotidiana, barulhenta, impossível de ignorar.

Nos dias de festival, Guarapuava se prepara para virar sala de cinema. Mas, mais do que isso, para se ver refletida na tela – em seus sotaques, campos, serras e histórias que raramente chegam aos circuitos oficiais.

Porque, no fundo, o que o Festival Curucaca propõe é simples: antes de conquistar o mundo, é preciso se reconhecer no próprio espelho.

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