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Professora Terezinha Saldanha agora é nome da praça em frente à Unicentro

Em justa homenagem, ela é considerada uma das maiores guardiãs da memória de Guarapuava

16/10/2025
Momento para a história: valorização de nomes locais em praças públicasMomento para a história: valorização de nomes locais em praças públicas

Na manhã de quinta-feira, Guarapuava acordou com nome novo na paisagem: a Praça Professora Doutora Terezinha Saldanha. Era, até ali, a Praça Juscelino Kubitschek – o ex-presidente que, como muitos nomes de rua, sobrevive mais nos mapas do que na memória das cidades.

Agora, o título pertence a uma mulher que, ao contrário, dedicou a vida inteira a guardar justamente aquilo que se tende a esquecer. Ela faleceu em maio deste ano, consagrando uma vida dedicada ao magistério e à história, em particular.

Professora Terezinha Saldanha: nome de praça, numa justa e exemplar homenagem, em nome dos que trabalham pela preservação da memória e da história

Professora aposentada, arquivista por vocação e historiadora por instinto, Terezinha Saldanha era daquelas figuras que sabiam onde estava guardada cada ata, cada carta, cada vestígio de um Guarapuava que já foi vila, depois cidade e, finalmente, objeto de pesquisa. Foi ela quem carregou nas costas – literalmente, muitas vezes – o acervo da Câmara Municipal, da Prefeitura, de prefeitos e vereadores, cujo passado é uma fotografia em pares, mas, com Terezinha no "front" da cultura, é informação "imortal". Pois foi a papelada gerada entre décadas de uma Guarapuava secular, dos cartórios civeis e criminais, que ela tratou como relíquia.

A cerimônia de reinauguração da praça teve tudo o que se espera de uma quinta-feira cerimonial: discursos solenes, palavras como “legado” e “memória” ditas com a gravidade necessária, o prefeito Denilson Baitala emocionado, reitor Fábio Hernandes empolgado, deputado Artagão Júnior presente com números na ponta da língua. “Mais de R$ 3,5 milhões em praças e pet places para Guarapuava já foram destinados”, contabilizou Artagão Júnior, como quem diz que o passado e o futuro podem, enfim, dividir um mesmo banco de praça.

A nova Praça Professora Doutora Terezinha Saldanha foi tratada com esmero pela administração municipal: paisagismo moderno, lixeiras novas, iluminação de LED e bancos suficientes para que os alunos da Unicentro possam – quem sabe – discutir Foucault ou cochilar entre uma aula e outra, debaixo das árvores que resistiram à revitalização.

Mas o gesto simbólico talvez esteja menos nos canteiros e mais na placa de bronze com o nome da professora. Ela, que dedicou a vida a catalogar nomes de outros, agora se torna verbete. Virou nome próprio de praça pública – o tipo de homenagem que é quase um epitáfio urbano.

Terezinha Saldanha começou a dar aulas em 1985, na antiga Fafig, num tempo em que a Unicentro ainda não era universidade. Criou o Cedoc, fundou o Instituto Histórico de Guarapuava, escreveu leis e cuidou dos arquivos como quem cuida da família. Sua morte, meses atrás, foi sentida como se fechasse uma porta de biblioteca que não se reabre.

Agora, com a praça remodelada, seu nome ficará em frente à universidade onde ensinou, cuidou dos papéis e dos alunos – muitos certamente nunca tenham lido uma linha escrita por ela, mas que passarão a atravessar diariamente sua memória estampada no chão.

Há quem diga que nomes de praça não fazem história. Mas para quem passou a vida inteira organizando o passado, é justo que o futuro, ao menos, passe por ali.

Estve é o sentido dos que desafiam o tempo em que vivem, quebrando paradigmas, trazendo o debate, o pensamento crítico. Como a Professora Terezinha, são estes os que fazem a diferença. 

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