Roubo de cargas cresce no Brasil e gera prejuízo bilionário às empresas
Em 2024, país registrou mais de 10 mil ocorrências; quadrilhas ampliam atuação e setor pressiona por novas medidas de segurança
19/08/2025
O Brasil registrou 10.478 roubos de carga em 2024, segundo dados do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp). O prejuízo estimado chega a R$ 1,2 bilhão, em um cenário que combina estradas precárias, insegurança crônica e expansão das quadrilhas especializadas.
O número equivale a uma média de 27 ataques por dia. Só no primeiro semestre de 2025, os casos cresceram 24,8% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com relatório da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística).
Além das perdas diretas, o setor enfrenta custos adicionais com seguros, escoltas e rotas alternativas. Esses gastos acabam repassados ao consumidor, elevando preços e reduzindo a competitividade dos produtos brasileiros no mercado externo.
Desde a promulgação da Lei 14.599/23, transportadoras são obrigadas a contratar três modalidades de seguro:
- RCTR-C (Responsabilidade Civil do Transportador Rodoviário de Carga);
- RC-DC (Desaparecimento de Carga);
- RC-V (Veículo).
O impacto foi imediato no setor de seguros. Dados da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) mostram que, entre janeiro e maio de 2025, a arrecadação do RC-DC cresceu 8,1%, alcançando R$ 570 milhões, enquanto as indenizações subiram 12,4% (R$ 239 milhões). Já o RCTR-C movimentou R$ 721 milhões em prêmios, com pagamentos próximos a R$ 520 milhões — alta de 5,2% em relação ao ano anterior.
Nova portaria da ANTT endurece fiscalização
Para reforçar o cumprimento da lei, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) publicou, em 11 de agosto, a Portaria Suroc nº 27/2025, que prevê a suspensão do Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Cargas (RNTRC) para empresas sem a comprovação da contratação dos seguros obrigatórios.
A norma moderniza o processo de fiscalização, substituindo documentos físicos por um sistema digital integrado. As informações poderão ser conferidas pela apresentação do certificado de seguro ou por intercâmbio de dados em tempo real entre seguradoras e a ANTT.
Segundo Esteves Colnago, diretor de Relações Institucionais da CNseg, a medida representa “uma evolução no método de fiscalização”, com potencial para aumentar a segurança em toda a cadeia logística.
O sistema digital deve entrar em operação plena até 10 de março de 2026. Até lá, a ANTT disponibilizará às seguradoras um manual técnico para integração via webservice.
Estradas vulneráveis, quadrilhas ativas
Especialistas avaliam que a expansão do roubo de cargas no país está diretamente ligada a falhas na malha rodoviária e à insuficiência do policiamento ostensivo. Em estados como Rio de Janeiro e São Paulo, os ataques seguem concentrados em áreas urbanas próximas a eixos logísticos. Já em regiões do Sul e Centro-Oeste, as quadrilhas avançam para rotas menos fiscalizadas, aproveitando a interiorização do transporte de grãos e produtos agroindustriais.
As operações da Força Nacional, em parceria com as polícias estaduais e a Rodoviária Federal, têm buscado conter a escalada, mas enfrentam o desafio da rápida adaptação das quadrilhas, que utilizam tecnologia para monitorar rotas, rastrear cargas e até interceptar sinais de rastreadores.
A pressão do setor logístico sobre o governo federal e as agências reguladoras aumenta na mesma proporção das perdas. Para empresários, o país só terá uma redução estrutural do problema se houver investimento consistente em segurança pública, integração de inteligência policial e melhoria da infraestrutura rodoviária.
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