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Operação Mafiusi, o escândalo que abalou o Norte do Paraná

Investigações da PF contra cartel de drogas chegam a secretário afastado da prefeitura de Maringá

19/10/2025
Carlos Augusto Ferreira, secretário da Fazenda de Maringá: Ferrari, cartel, tráfico, lavagem de dinheiro, as investigações da Polícia Federal que o executivo nega ter participação Carlos Augusto Ferreira, secretário da Fazenda de Maringá: Ferrari, cartel, tráfico, lavagem de dinheiro, as investigações da Polícia Federal que o executivo nega ter participação

Em mais um capítulo sombrio que expõe as entranhas do poder político brasileiro, a Polícia Federal alvejou nesta quinta-feira (16) um dos nomes mais proeminentes da gestão municipal de Maringá: Carlos Augusto Ferreira, secretário da Fazenda da cidade no norte do Paraná, foi alvo de mandado de busca e apreensão em uma megaoperação que investiga lavagem de dinheiro para o narcotráfico internacional, com conexões diretas com o Primeiro Comando da Capital (PCC), a mais poderosa facção criminosa da América do Sul.

As diligências apuram o tráfico internacional de cocaína entre o PCC e a máfia italiana, usando o Porto de Paranaguá como duto de saída das drogas. O uso de empresas "comuns" para lavagem de dinheiro também veio à tona. O secretário Carlos Augusto Ferreira, de 64 anos, teve três veículos de luxo apreendidos – incluindo uma Ferrari avaliada em mais de R$ 2 milhões – durante o cumprimento das ordens judiciais da segunda fase da Operação Mafiusi. 

 

Ferrari na garagem do secretário: PF em busca de "evidências"

A investigação, conduzida pela Polícia Federal com autorização da 23ª Vara Federal de Curitiba, mira o que os investigadores classificam como o "núcleo financeiro do PCC": empresários, operadores e agentes públicos suspeitos de ajudar a movimentar e disfarçar milhões de reais oriundos do tráfico de cocaína com destino à Europa.

Documentos e mensagens analisados pelos investigadores sugerem que parte do lucro das exportações de drogas foi reinvestido na compra de um clube de futebol brasileiro, utilizado como fachada para lavar o dinheiro ilícito. O envolvimento do secretário municipal surge em meio às evidências de que ele manteve conversas frequentes com o responsável financeiro da facção e teria usado uma de suas empresas para fazer transações superiores a R$ 1 milhão.

Ferreira nega qualquer irregularidade. Em nota divulgada à imprensa, afirmou que não conhece os demais investigados e que pode ter sido confundido com outra pessoa. Ele também reforçou que nenhum item ilícito foi encontrado em sua residência e que colaborará com as investigações. A prefeitura de Maringá confirmou que o secretário pediu afastamento do cargo por tempo indeterminado.

Apesar da negativa, a PF sustenta que Ferreira tinha pleno conhecimento da origem ilícita do dinheiro e utilizava sua estrutura empresarial para ocultar os recursos. As ordens judiciais também determinaram o bloqueio de cerca de R$ 14 milhões em bens, imóveis e contas bancárias de diferentes investigados.

A nomeação de Carlos Augusto para a secretaria de Fazenda, em janeiro de 2025, teria sido apadrinhada por figuras de peso da política local e nacional, iincluindo um empresário do ramo hospitalar. 

Políticos negam relação com denúncias 

Em nota, a Prefeitura de Maringá, comandada por Sílvio Barros, descartou qualquer relação com os fatos apontados pela Polícia Federal. O secretário entrou automaticamente no modo "afastado".

Ferreira traz no currículo uma carreira de três décadas como executivo de grandes conglomerados, incluindo Telefônica, Brasil Telecom e PricewaterhouseCoopers. Em Maringá, teve papel central na fusão de grandes redes de supermercados e na venda de hospitais para grupos de investimento estrangeiros. Segundo seu perfil no site oficial da prefeitura, chegou a gerenciar ativos de até US$ 1 bilhão.

Mas agora, o executivo convertido em gestor público vê sua reputação despencar em meio a uma das maiores operações policiais já deflagradas no Paraná contra o crime organizado.

A ofensiva da PF se estendeu a nove cidades, incluindo capitais como São Paulo e Curitiba, e resultou em três prisões preventivas. Segundo os investigadores, o grupo criminoso articulava remessas constantes de cocaína ao exterior com apoio logístico de empresários, doleiros e agora, aparentemente, também agentes políticos.

O caso alimenta o debate sobre o alcance do PCC nas instituições brasileiras e lança dúvidas sobre a vigilância institucional em cargos estratégicos do serviço público.

 

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