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A tempestade institucional brasileira à sombra de Moraes, Bolsonaro e Trump

Jogo de forças pode levar o País à radicalização cada vez maior

05/08/2025

O Brasil atravessa um momento de tensão institucional alimentado por um delicado jogo de forças entre Executivo, Judiciário e a base bolsonarista, cuja radicalização não apenas desafia o Estado democrático de direito, mas revela conexões externas e interesses geopolíticos que extrapolam fronteiras. No centro da crise: a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro, a proposta de anistia aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro, e uma ofensiva parlamentar pelo impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Trata-se de um embate com múltiplas camadas – jurídicas, políticas e econômicas – que ganha contornos ainda mais complexos diante do cenário internacional. A postura hostil dos Estados Unidos em relação a exportações brasileiras, materializada num novo pacote tarifário, e a tentativa do presidente Donald Trump de exercer influência sobre a política brasileira colocam Brasília diante de uma encruzilhada diplomática e institucional.

A ofensiva bolsonarista mais recente – a ocupação do Plenário da Câmara por deputados de oposição–  evidencia a radicalização do discurso e a disposição para tensionar as instituições. A pauta é clara: reverter a prisão de Bolsonaro, aprovar uma anistia ampla aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 e abrir um processo de impeachment contra Alexandre de Moraes, símbolo da contenção judicial ao avanço da extrema direita no país.

O governo Lula, por sua vez, assiste ao movimento com cautela, tentando preservar a estabilidade institucional sem ceder ao apelo revanchista. A avaliação no Planalto é de que responder com força semelhante alimentaria o mesmo caldo autoritário que sustentou as invasões em Brasília no início do terceiro mandato petista.

Mas o STF, especialmente o ministro Moraes, parece determinado a seguir com a responsabilização dos envolvidos. A prisão de Bolsonaro, autorizada após a descoberta de novas evidências de conspiração contra as eleições de 2022, foi um marco simbólico e jurídico. E pode, paradoxalmente, fortalecer sua base mais radical, agora mobilizada em busca de martírio e anistia.

As digitais de Trump

O pano de fundo internacional torna o cenário ainda mais volátil. A reaproximação entre Jair Bolsonaro e Donald Trump é acompanhada com preocupação por diplomatas e analistas. O jogo entre ambos se fortalece quando se encerra a reunião do Brics, sediada pelo Brasil no mês passado, sinalizando para uma força unilateral chefiada pela Rússia e China, antagonistas aos EUA, e a proximidade do julgamento de Jair Bolsonaro. Ato contínuo,Trump declara a pretensão de sobretaxar produtos brasileiros em até 50%, condicionando as medidas à anistia e a absolvição plena de Jair Bolsonaro.

Enquanto isso, o deputado estadual Eduardo Bolsonaro (PL), filho de Bolsonaro, transfere residêncnia para os Estados Unidos, promove encontros com aliados de Trump e think tanks conservadores, com o declarado objetivo de fazer resistência à condenação do ex-presidente brasileiro. É perceptível a articulação transnacional para influenciar o rumo político e  judiciário do Brasil. 

Nos movimentos seguintes, presencia-se um tarifaço dos EUA bem menor ao imaginado, no mesmo espaço de tempo em que o ministro Alexandre de Moraes determina colocação de tornezeleira eletrônica e posterior prisão domiciliar de Jair Bolsonaro.

O Brasil vive um teste de resiliência institucional em meio a um ambiente de pressões cruzadas. A luta entre os três Poderes não é apenas uma disputa por protagonismo político; é um embate sobre os limites da legalidade, a soberania das urnas e o papel das instituições de controle em democracias frágeis.

O confronto político pode caminhar para um armistício, com suavização das ações sobre o bolsonarismo, o que é visto como improvável por amplos analistas, ou a abertura de um novo ciclo político, com a inserção de novos atores na disputa pela Presidência da República, com eleições marcadas para o ano que vem.

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