O exemplo do trigo: força política do agro alivia fragilidades estruturais
O problema não é apenas econômico, é estratégico
20/11/2025
Josiel: "Essa representatividade empresarial não é mero detalhe: é um fator de competitividade. A organização política consegue não apenas acessar recursos, mas moldar o ritmo e o formato da intervenção estatal"A intervenção do governo brasileiro no mercado de trigo – R$ 67 milhões liberados para sustentar preços e facilitar o escoamento da safra no Sul – é um lembrete de como a agricultura nacional continua profundamente dependente não apenas das oscilações globais, mas também da capacidade de seus setores organizados de se fazer ouvir em Brasília. Em um país onde o Estado parte para a ação, muitas vezes, apenas quando pressionado, a força política e empresarial do agronegócio segue sendo um ativo tão decisivo quanto fertilidade do solo ou clima favorável.
A situação que precipitou essa resposta é nítida. Com a saca de trigo gaúcho negociada a R$ 58,11 – muito abaixo do preço mínimo oficial de R$ 78,51 –, produtores caminham para um prejuízo generalizado. Isso significa risco de inadimplência nos financiamentos, retração na próxima safra e, ironicamente, maior dependência de importações num país que se afirma vocacionado ao autoabastecimento. O problema não é apenas econômico: é estratégico.
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Josiel Lima é agrônomo, pai de família, produtor rural, empresário, presidente do MDB em Guarapuava, foi candidato a deputado federal e secretário municipal de Agricultura
Os instrumentos ativados pela Conab – PEPRO e PEP – são mecanismos clássicos. O primeiro compensa parte da diferença entre o preço de mercado e o preço mínimo; o segundo paga para que o grão seja escoado para fora das regiões produtoras, aliviando a pressão local. Funcionam bem para evitar um colapso. Mas, subsídios pontuais tendem a estabilizar o curto prazo enquanto empurram o debate estrutural para mais longe.
O que realmente chama atenção, porém, não é o desenho técnico da medida, mas a forma como ela foi viabilizada.
O "arranjo" governamental nasceu de uma articulação da Sistema FAEP (Federação da Agricultura do Estado do Paraná), de lideranças do agronegócio que se somaram à atuação de parlamentares como o deputado federal Sérgio Souza, do MDB do Paraná, partido do qual sou presidente em Guarapuava.
O resultado mostra que, no Brasil, a política agrícola sobrevive tanto da lógica econômica quanto da força dos setores organizados. Essa representatividade empresarial não é mero detalhe: é um fator de competitividade. A organização política consegue não apenas acessar recursos, mas moldar o ritmo e o formato da intervenção estatal.
Em democracias complexas, como a brasileira, essa influência pode ser vista por duas lentes. A primeira, pragmática: sem pressão coordenada, políticas essenciais simplesmente não saem do papel. A segunda, mais crítica: decisões que deveriam ser orientadas por diagnósticos técnicos e metas de longo prazo acabam respondendo a urgências percebidas e correlações de força momentâneas.
O trigo, portanto, torna-se símbolo de algo maior – um sistema que reage bem, mas planeja mal.
Resta o dilema. O aporte de R$ 67 milhões é necessário, mas claramente insuficiente para corrigir distorções estruturais. O futuro do trigo brasileiro depende de fatores que nenhum subsídio pontual resolve: variação cambial, competitividade do produto argentino, demanda interna e qualidade da safra.
Depende também de políticas mais inteligentes de seguro agrícola, de atualização realista dos custos de produção e de investimentos consistentes em armazenagem – não apenas de resgates periódicos.
Em muitos países, a força das representações empresariais molda a economia. No Brasil, molda também as emergências. E, no caso do trigo, é essa força – mais do que a mão visível do Estado – que tem evitado que uma crise de preços se transforme em algo muito mais profundo: uma retração permanente da produção nacional.
Acompanhei a palestra do deputado Luís Corti, autor do projeto que protege os produtores de leite do Paraná
A importância de proteger produtores nacionais de trigo se repete, também, entre os produtores de leite
Graças ao trabalho da Assembleia Legislativa e do governo do Estado, a expectativa é de que o projeto paranaense que proíbe a reconstituição de leite importado pela indústria nacional seja apresentado por parlamentares do Paraná na Câmara Federal, ampliando a medida para todo o Brasil.
Nesta quinta-feira, tive a satisfação de parabenizar pessoalmente o autor do projeto, deputado estadual Luís Corti, que veio a Guarapava para uma reunião com produtores no Sindicato Rural.
A norma determina que é proibido, no Estado do Paraná, que indústrias, laticínios ou outras pessoas jurídicas reconstituam (reidratem) leite em pó importado, composto lácteo ou soro de leite para consumo alimentar.
A discussão em nível nacional será mais complexa, mas a necessidade é maior que tudo.
Todo mundo fala
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