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Eleições Legislativas na Argentina: um referendo sobre o governo Milei

Plebiscito de meio de mandato testa a força do projeto liberal argentino, em meio à austeridade, tensão com o Congresso e olhar atento dos mercados internacionais

26/10/2025

As eleições legislativas realizadas neste domingo (26) na Argentina, para renovar metade da Câmara dos Deputados (127 cadeiras) e um terço do Senado (24), representam mais do que uma disputa parlamentar. Para o presidente Javier Milei, elas funcionam como um plebiscito sobre os primeiros dois anos de sua gestão e um indicativo de até onde vai o fôlego de seu projeto liberal.

Milei chegou ao poder em dezembro de 2023 prometendo uma revolução de mercado: cortes profundos no gasto público, desregulação econômica e redução drástica da intervenção estatal. Desde então, a inflação – que superava 12% ao mês – caiu para 2,1%, segundo dados de outubro de 2025. Mas o custo político dessa estabilização tem sido alto: demissões no setor público, cortes sociais e um escândalo envolvendo sua irmã, Karina Milei, chefe de gabinete e uma das figuras mais próximas do presidente.

“Estas eleições são um teste decisivo”, afirma o analista político Diego Reynoso, da Universidade de San Andrés. “Milei precisa mostrar que sua base social ainda o sustenta, mesmo diante do desgaste das reformas.”

O que está em jogo:

1. A correlação de forças no Congresso

O partido governista La Libertad Avanza tem hoje 37 deputados e 6 senadores – uma minoria que obriga o governo a negociar cada votação. Analistas consideram que atingir mais de 35% dos votos seria um bom resultado, enquanto chegar a 40% equivaleria a uma “vitória expressiva”.

Um desempenho forte ampliaria a base aliada e daria a Milei maior capacidade de aprovar reformas trabalhistas, tributárias e de privatização. Um resultado fraco, ao contrário, pode mergulhar o governo em paralisia legislativa.

2. A continuidade da agenda econômica

Apesar do alívio inflacionário, a austeridade cobrou seu preço político. A taxa de desemprego subiu, e a pobreza ronda 42%, segundo estimativas privadas. Sem apoio parlamentar sólido, Milei corre o risco de ver reformas estruturais – como as de trabalho e desregulação – travarem ou se diluírem em negociações com a oposição.

3. A confiança dos mercados

O resultado eleitoral também serve de termômetro para investidores. A moeda argentina, o peso, atingiu mínimas históricas nas semanas que antecederam a votação, refletindo a incerteza.

O governo, por sua vez, tenta sinalizar estabilidade: fechou um swap cambial de US$ 20 bilhões com os Estados Unidos, em parte para garantir liquidez e conter a volatilidade. Mas, para analistas de mercado, a eleição é vista como um “evento binário” — vitória sólida de Milei traria alívio; derrota, fuga de capitais.

4. O peso da geopolítica

As relações exteriores também entram na equação. O presidente americano Donald Trump, aliado político de Milei, deixou claro que o futuro do apoio financeiro e diplomático dos EUA dependerá da força que o argentino demonstrar nas urnas.

“Washington está observando atentamente”, afirmou um diplomata argentino. “A imagem de Milei como reformista pró-mercado é o que sustenta boa parte da boa vontade internacional.”

Cenários possíveis

Cenário otimista: Se o governo alcançar entre 35% e 40% dos votos, Milei ganhará fôlego político e econômico. Poderá acelerar privatizações, reduzir ministérios e consolidar a imagem de líder reformista na América do Sul.

Cenário adverso: Se a base legislativa recuar, o presidente terá de ceder espaço à oposição, comprometer parte das reformas e lidar com pressão cambial e incerteza nos mercados.

O que vem depois

Independentemente do resultado, as eleições deste domingo definem o tom da reta final do mandato e o campo de forças para a disputa presidencial de 2027. Um bom desempenho reforça a hipótese de reeleição de Milei; um revés abre espaço para o retorno de forças tradicionais, como o peronismo ou setores moderados do radicalismo.

Para Javier Milei, a eleição legislativa de 2025 não é apenas uma rotina democrática. É um teste de sobrevivência política, um indicador da paciência social com o choque liberal e, em última instância, uma medição de força entre o discurso da mudança e os limites da realidade argentina.

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