Entidades recomendam a pacientes exigir especialistas em casos de anestesia e cirurgia plástica

Um médico “comum” pode fazer anestesia num paciente, mas o recomendável é que o procedimento seja feito por um especialista, com formação específica na área, que saiba agir em situações complexas e tenha os equipamentos necessários para casos de choque, como aconteceu com a paciente Mariluci Andretti. Ela sofreu parada cardiorrespiratória durante uma cirurgia plástica estética (mini-lipo) na Clínica Mater Dei, em Guarapuava, dia 14 último, e continua internada em estado preocupante na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital São Vicente de Paulo.

A mesma recomendação de especialidades vale para cirurgias plásticas. No caso da Mater Dei, tanto o médico responsável pela cirurgia, Wagner Moura, como o anestesista, Belarmino Baccin, não têm registro como especialistas nos principais órgãos de classe (a Sociedade Paranaense de Anestesiologia – SPA e a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica no Paraná – SBCP-PR).

UM SONHO QUE VIROU CHOQUE NA MESA DE CIRURGIA

Os médicos Wagner Moura e Belarmino Baccin (no alto) e Mariluci Andretti: especialidades médicas colocadas em xeque; e o sonho da paciente interrompido por "mal súbito" 

A exemplo dos cirurgiões plásticos, que têm uma entidade que regulamenta o setor, os anestesiologistas também são rigorosos no exercício da profissão. Baccin é um conhecido ginecologista em Guarapuava, o que o levou a implantar a Mater Dei, clínica situada num endereço próximo à Lagoa das Lágrimas.

No Instagram de Wagner Moura, constam depoimentos de várias pacientes, o que revela o trabalho recorrente do médico em Guarapuava. No perfil, ele se apresenta como membro-adjunto do Colégio Brasileiro de Cirurgia Plástica (CBCP). No Facebook, seu currículo é maior: especialista no procedimento M.E.L.L.A (mini-lipo), pós-graduado em cirurgia plástica & dermato estética, tutor na Faculdade Campo Real.

Wagner Moura informou que cancelou todos os atendimentos programados.

Em situações extremas, médico "comum" pode aplicar anestesia geral

O médico não especialista tem recomendação para aplicar anestesia preferencialmente ser for local, sem sedação completa, quando a região é distante de centros médicos e não dispõe de nenhum anestesiologista, ou diante de uma emergência.

Sendo anestesia geral, como foi a situação de Mariluci Andretti, a indicação é que seja em hospital, com serviço de UTI próximo e com um profissional que tenha conhecimento para evitar ou consiga atuar numa intercorrência.

Mariluci Andretti tem 42 anos, casada e mãe de dois filhos, e procurou uma correção estética como é o desejo de muitas pessoas, mulheres e homens.

O médico Wagner Moura afirmou em vídeo, taxativamente, que o incidente com a paciente aconteceu "antes da cirurgia", na fase de anestesia. Embora não sejam explícitas, as declarações de Moura deixam evidente seu objetivo de minimizar sua participação.

A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica no Paraná (SBCP-PR) divulgou nota em referência ao episódio de Guarapuava, alertando que intervenções como a que seria feita em Mariluci, devem ter a direção de um especialista em cirurgia plástica. “Recentemente, a entidade recebeu denúncia sobre um médico que atuava de forma irregular como cirurgião plástico na região de Guarapuava”, diz a nota, assinada pelo presidente do órgão, Lady Canan Jr. “O caso está sendo cuidadosamente apurado em colaboração com os órgãos competentes, como parte do trabalho de supervisão e fiscalização promovido pela SBCP-PR”, acrescenta.

As especialidades são regidas por um código específico do Conselho Federal de Medicina. Via de regra, para ser considerado apto a uma especialidade, o profissional precisa passar por um curso e obter o Registro de Qualificação de Especialista (RQE).

Também não está esclarecido por que o Samu, um órgão público, foi chamado para atender a paciente num hospital particular e numa cirurgia eletiva. Pela legislação, o Samu é exclusivo para atendimento do SUS. A Mater Dei deveria ter sua própria estrutura para o socorro em situações como aquela. É o que leva à importância de uma cirurgia plástica ser feita em hospital, dotado da infraestrutura necessária, e não numa clínica médica.

A clínica também deverá apresentar licença sanitária, que foi requerida em 2024 e continua pendente. Uma das exigências é RT de enfermagem. A clínica está sob prazo para apresentar documentação.

Os diretores da clínica foram procurados pela imprensa e até hoje não se manifestaram publicamente.

O quadro de saúde de Mariluci Andretti apresentou oscilações, com picos de piora. Ela permanece sob cuidados intensivos na UTI.

Algumas pessoas saíram em defesa dos médicos nas redes sociais, dizendo que incidentes são "comuns" em cirurgias. 

NOTA OFICIAL

íntegra da nota da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica – Regional Paraná (SBCP-PR):

"A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica – Regional Paraná (SBCP-PR) reforça à população a importância de verificar a habilitação de médicos antes de qualquer procedimento estético ou reparador. Conferir o registro e a especialidade do profissional é um passo fundamental para reduzir riscos e preservar a segurança do paciente.

Recentemente, a entidade recebeu denúncia sobre um médico que atuava de forma irregular como cirurgião plástico na região de Guarapuava. O caso está sendo cuidadosamente apurado em colaboração com os órgãos competentes, como parte do trabalho de supervisão e fiscalização promovido pela SBCP-PR.

Orientamos que pacientes consultem o portal da SBCP para confirmar se o profissional possui registro ativo e Registro de Qualificação de Especialista (RQE). A entidade também disponibiliza canais de atendimento para esclarecimentos sobre habilitação de médicos e orientações sobre procedimentos de cirurgia plástica.

Nossos votos de solidariedade com a família e amigos e reafirmamos nosso compromisso com a transparência, a fiscalização e a orientação à população.

Dr. Lady Canan Jr.
Presidente da SBCP-PR"

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