“Capital da Ciência”: Guarapuava assume protagonismo na divulgação científica do Paraná
Com a realização da 5ª edição do Paraná Faz Ciência, cidade se torna símbolo da descentralização do conhecimento e da integração entre ciência, educação e sociedade
29/09/2025
Durante cinco dias, de hoje (29) até 3 de outubro, Guarapuava recebe uma tarefa inédita: transformar-se no centro da ciência e da tecnologia do Paraná. Com uma população de pouco mais de 190 mil habitantes e atuando para se tornar uma referência como centro universitário, Guarapuava sedia a 5ª edição do Paraná Faz Ciência, feira que tem se consolidado como o maior evento de popularização científica do sul do Brasil.
Organizada pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), com o apoio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti) e da Fundação Araucária, a feira é parte da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. A edição deste ano tem como tema “Ciência, Tecnologia e Inovação na Ação contra a Mudança Global do Clima”, e deve atrair cerca de 40 mil visitantes ao Centro de Eventos Cidade dos Lagos.
Paraná Faz Ciência em Guarapuava: uma aposta em descentralização
A magnitude do Paraná Faz Ciência e seu caráter inclusivo – com entrada gratuita e atividades voltadas para públicos de todas as idades – revelam mais do que um festival de ciência: representam uma tentativa consciente de reposicionar o papel da ciência pública no Brasil, sobretudo fora dos grandes centros.
O Paraná Faz Ciência nasceu em 2020, ainda sob o impacto das restrições da pandemia de Covid-19, com duas edições virtuais. Desde então, tem adotado um modelo de rodízio entre universidades estaduais, funcionando não apenas como feira, mas como mecanismo de descentralização do ecossistema científico paranaense. Em 2023, foi sediado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL); em 2024, pela Universidade Estadual de Maringá (UEM); agora, é a vez da Unicentro.
Campus Santa Cruz: unidade principal da Unicentro
Essa circulação entre instituições fortalece vínculos regionais e estimula uma cultura científica para além das capitais. No caso de Guarapuava, a escolha parece ser estratégica. A cidade, com forte presença universitária e crescente infraestrutura educacional, representa um território intermediário onde a ciência ainda pode se afirmar como fator de transformação social e econômica.
Para o reitor da Unicentro, professor Fábio Hernandes, sediar o evento é também uma forma de reconhecimento institucional. “O fato de a Seti confiar à Unicentro a responsabilidade de coordenar este evento mostra que somos uma universidade séria, comprometida e preparada. Queremos que Guarapuava respire ciência, tecnologia e inovação ao longo da semana” – assevera o reitor.
Uma feira com formato ampliado
Ao contrário de congressos científicos tradicionais, o Paraná Faz Ciência tem como foco o público leigo, especialmente estudantes da educação básica. A programação foi desenhada para combinar rigor acadêmico e acessibilidade, com seis eixos principais: mostras científicas, oficinas e minicursos, exposições, feiras de profissões, eventos culturais e a divulgação de uma pesquisa inédita sobre a percepção da população paranaense em relação à ciência.
Entre as iniciativas mais aguardadas está a Mostra Interativa de Ciência, Tecnologia e Inovação, que envolve 24 instituições parceiras. No mesmo espaço, a Feira de Profissões busca oferecer orientação vocacional a milhares de jovens do ensino médio. Oficinas práticas exploram temas que vão da neurodiversidade à matemática aplicada, passando por modelos de agricultura urbana e desenvolvimento sustentável.
O Museu Dinâmico Interdisciplinar (Mudi), da UEM, uma referência nacional em museologia científica, participa do Encontro dos Museus, levando parte do acervo e contribuindo com experiências interativas. A presença do Mudi reforça um dos principais objetivos do evento: estimular o interesse pela ciência desde a infância e criar vínculos entre a universidade e a comunidade.
A Universidade Estadual de Londrina (UEL), a exemplo da UEM, mostrou antecipadamente por que é uma grande universidade, ao compartilhar, com detalhes, os temas que trará para abordagem popular. (Veja reportagem abaixo)
O desafio da logística e da escala
Realizar um evento desse porte em uma cidade média do interior é, por si só, uma operação complexa. A Unicentro, em parceria com a prefeitura e outras instituições locais, montou uma logística robusta para receber o público estimado – entre caravanas escolares, visitantes individuais, expositores e técnicos. O deslocamento de equipes acadêmicas, em particular, exigiu escalas organizadas para permitir a participação sem interromper as atividades regulares das universidades envolvidas.
Para se ter uma ideia da dimensão da feira, e o seu impacto na economia local, as empresas de ônibus de Guarapuava não conseguiram veículos suficientes para atender à demanda. Para suprir tamanha circulação de pessoas, a Unicentro chamou a Abrasel em parceria com seus food-truck.
A Universidade Estadual de Maringá, por exemplo, que sediou a edição anterior e agora atua como expositora, estruturou a participação de forma rotativa. Segundo o pró-reitor de Extensão e Cultura da UEM, foi necessário organizar as equipes em dois turnos para não comprometer as agendas institucionais. “O evento dura uma semana inteira, o que exige esforço logístico significativo”, observa.
Superando marcas anteriores
A expectativa da organização é superar os números da edição de 2024, em Maringá, que recebeu mais de 38 mil pessoas de 48 municípios. Na ocasião, 130 escolas mobilizaram 13 mil alunos para visitar os 52 estandes da mostra interativa. A diversidade da programação, que incluiu um planetário digital, um ônibus interativo da Itaipu Binacional e 30 apresentações culturais, demonstrou que ciência e cultura não são esferas opostas – mas complementares.
A edição de 2025 em Guarapuava mantém essa aposta. A programação cultural inclui apresentações artísticas e shows, além de espaços para intervenções criativas ligadas à sustentabilidade e às mudanças climáticas. Segundo os organizadores, o objetivo é promover uma experiência imersiva, onde o visitante não apenas observa, mas interage com a ciência.
Entre ciência e política pública
Há uma dimensão política clara no Paraná Faz Ciência: ele é tanto um evento de divulgação quanto uma manifestação do esforço institucional para manter a ciência pública em evidência. Ao envolver universidades estaduais, órgãos governamentais e centros de pesquisa em uma mesma estrutura, a feira sugere um modelo de cooperação capaz de resistir às oscilações orçamentárias e às mudanças de gestão pública.
O fato é que a expressão “inovação” virou modismo e narrativa para discursos políticos, sem que isso, concretamente, traga resultados. Onde há eficiência, estudiosos demonstram que os projetos fortalecem a cultura local, sem apelo entreguista às “big-tech”, que são conglomerados especialistas em ditar normas de comportamento para validar seus negócios financeiros. É na simplicidade-resultados, que os programas acontecem, e é na composição desse binômio que reside o segredo do sucesso.
A Fundação Araucária, um dos principais órgãos de fomento do estado, utiliza o evento como vitrine de suas políticas. E a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior vem tentando consolidar o Paraná Faz Ciência como um instrumento permanente de política pública — não apenas como evento pontual.
Em tempos de negacionismo científico e desinformação, essa é uma aposta relevante. Ainda mais quando feita fora dos grandes centros, onde a presença física da universidade pode ser, para muitos, a primeira experiência direta com o universo científico.
A capital da ciência – por cinco dias
Guarapuava, normalmente ausente do radar das grandes discussões sobre inovação no Brasil, ganha centralidade simbólica durante esta semana. Ao transformar sua infraestrutura em um grande laboratório público, a cidade demonstra como a ciência pode ser territorializada — sem que isso signifique exclusão do debate global.
Mais do que um espetáculo de estandes, o Paraná Faz Ciência oferece uma visão de futuro: uma ciência acessível, descentralizada e envolvente, com raízes locais e ambições universais.
Serviço
- Paraná Faz Ciência 2025
- Centro de Eventos Cidade dos Lagos, Guarapuava (PR)
- 29 de setembro a 3 de outubro
- Entrada gratuita
Centro de Inovação da Universidade de Londrina foi credenciada pelo Separtec, da Itaipu Binacional
UEL traz a Guarapuava sua experiência em pesquisa e inovação
A Universidade Estadual de Londrina (UEL) participa da 5ª edição do Paraná Faz Ciência com projetos inéditos e outros sob os temas Mostra Interativa de Ciência, Tecnologia e Inovação (Eixo 2) e Cultura e Arte (Eixo 5). As informações foram compartilhadas pela assessoria de imprensa da instituição.
No Eixo 2, a universidade apresentará projetos como:
- “Atenção domiciliar: higiene bucal de pacientes acamados”, demonstrando o uso de escovas adaptadas;
- “Cultivando Saúde: prevenção ao Câncer de mama” e “Adolescer com saúde”, voltados à promoção da saúde;
- “Democracia em jogo” e “Oficina do Jogo e Educação Ambiental”, que estimulam o pensamento crítico e a consciência ecológica por meio de jogos como Sustentadooble, Ninguno e Descarte 91.
Dois projetos farão sua estreia no evento:
- “ABC: Aprendendo Biotecnologia e Ciência”, que levará conhecimentos de biotecnologia a estudantes do ensino básico por meio de visitas a laboratórios e palestras;
- E a “Oficina do Jogo e Educação Ambiental”, com atividades lúdicas sobre sustentabilidade.
No Eixo 5, a UEL será representada por instituições como o Museu Histórico de Londrina, dirigido por Edméia Aparecida Ribeiro, e o Núcleo de Documentação e Pesquisa Histórica (NDPH), sob coordenação do professor José Miguel Arias Neto. Também será apresentado o projeto “NAPI Paraná Faz Ciência/Museu de Ciência e Tecnologia de Londrina”, voltado à popularização científica através da cultura.
Inovação e Cooperação
A UEL participará ainda de oficinas, fóruns e encontros em parceria com outras instituições de ensino superior do estado. Um deles é o evento de capacitação “Formação de Professores Coordenadores para a Operação Verão Maior Paraná”, que prepara docentes para atuarem na tradicional operação educativa no litoral paranaense. A universidade também estará presente em discussões sobre internacionalização, pesquisa, pós-graduação e extensão universitária.
Destaque especial será a Cerimônia de Premiação do Programa Prime, que reconhecerá projetos de propriedade intelectual com potencial de mercado. Três iniciativas da UEL receberão R$ 200 mil cada:
- “Food NatClean”, sanitizante natural para alimentos, do professor Gerson Nakazato;
- “Fibro Placa”, inovação na área de fisioterapia, da professora Sonia Maria Fabris Luiz;
- “ReMush-AgroScience”, projeto da mestranda Letícia Fernandes Gonçalves, voltado à biotecnologia.
Ciência e Compromisso Social
O evento integra a 22ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que neste ano tem como tema “Planeta Água: cultura oceânica para enfrentar as mudanças climáticas no meu território”. Ao todo, a programação conta com mais de 250 atividades, distribuídas em 60 horas de eventos presenciais nos períodos da manhã, tarde e noite.
Os seis eixos temáticos incluem:
- Eixo 1 – Ação contra a Mudança Climática, com foco em debates sobre impactos ambientais;
- Eixo 3 – Ciência na Prática, com oficinas e minicursos para estimular a curiosidade científica;
- Eixo 4 – Redes Colaborativas, com atividades voltadas à cooperação entre programas de pós-graduação;
- Eixo 6 – Ciência e Compromisso Social, que debate o papel da ciência frente a desigualdades e políticas públicas.
"Visibilidade ao que fazemos"
Para a pró-reitora de Extensão, Cultura e Sociedade da UEL, Zilda Andrade, o evento é uma vitrine essencial:
“Nosso principal objetivo ao participar do Paraná Faz Ciência é dar visibilidade ao que a universidade oferece à sociedade. Este evento representa uma oportunidade de contato com outras instituições, o que permitirá o fortalecimento de parcerias ou novas conexões com a visitação de um público diversificado, que engloba de estudantes a profissionais, da academia ao setor produtivo”, afirma.
Universidade de Maringá sediou a edição passada do Paraná Faz Ciência: número de participantes desafiou a logística
UEM participa com quatro projetos
A UEM estará presente no Eixo 2, com quatro projetos: Neurodiversidade: a extensão acadêmica promovendo a inclusão social; Matemática em exposição: formas, figuras e números; A Planície de Inundação do Alto Rio Paraná; e o Centro de Referência em Agricultura Urbana e Periurbana (CerAUP/UEM). Além disso, o Museu Dinâmico Interdisciplinar (Mudi) participará do Encontro dos Museus, levando parte do seu acervo. O Mudi é um dos museus de ciência mais visitados do Brasil e contribuirá para o evento compartilhando sua reconhecida excelência.
Para o reitor Leandro Vanalli, em 2024 foi a vez da UEM realizar o Paraná Faz Ciência e a experiência foi extremamente positiva, comenta: “A UEM sediou com grande sucesso o Paraná Faz Ciência em 2024, e foi uma verdadeira celebração do conhecimento e da inovação científica no estado. A experiência da UEM foi de fato extremamente positiva, com o evento superando as expectativas ao atrair cerca de 38 mil visitantes, incluindo milhares de estudantes do ensino fundamental e médio, sendo uma oportunidade valiosa para aproximarmos ainda mais a universidade da sociedade e fortalecendo o papel da instituição como um centro da ciência e da tecnologia."
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