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Os ventos uivantes da política guarapuavana

22/03/2024

POR PONCIANO SINCERO
Aqui nas barrancas do Alagado do Iguaçu, num humilde rancho de pesca, uma cama feita com resto de árvore caída, o fogão à lenha com a chaleira chiando à espera do chimarrão e fritura pro dourado, na panela maior batata com carne à base de louro e alho/cebola, na menor arroz com couve, chegam as notícias da Velha Guarapuava.
Contaram-me que nem tudo será como dantes no quartel da Silvestrada, dos Leão que Matam os Matos e do Ferdinando Ronca Papo. A famosa aliança que catapultou o Celso Góes no cargo-mor da Barrosa não conseguiu resistir a um mandato, ou, se conseguir, será mais esburacado que a Estrada do Guairacá, até o Alemão da SURG desembarcar por lá com sua tropa de choque. Sinal das mudanças que se avizinham, conta-me uma senhora, adivinhadora de futuro, que vive solitariamente no meio dos caingangues aqui do Candói/Mangueirinha. Ela nunca erra.
Enquanto dou mais um lanço com anzol, esperando pelo menos por uma carpa, com os pés dentro da água, providencial nestes dias de bafão aqui na costa da represa do Iguaçu, vem à memória um livro que ganhei certa feita do falecido Professor Morgado, um erudito da política, como poucos que ainda restam nos dias atuais nas plagas do Homem do Cavalo.
Tal escrito falava da Geringonça, o nome dado à junção dos partidos de esquerda até então adversários no Parlamento Português em 2015. Nas terras além dos montes, puseram no mesmo balaio de um governo parlamentarista, lideranças comunistas, socialistas e do bloco de esquerda. A coalizão foi bem-sucedida até agora, quando a extrema-direita ascendeu ao poder.  
Consulto o dicionário Oxford que comprei na antiga Livraria Pinheiro, por indicação da Professora Chica, uma das memoráveis diretoras do Carneiro Martins. Qual diz: Geringonça é “malfeito, com estrutura frágil e funcionamento precário”.
Caspito!
A gerigonça guarapuavana – que de esquerdista não tem nada, muito pelo contrário – dá todos os sinais de que desce a ladeira sem freio. A coalizão formada para a eleição do neófito Celso Góes está sendo redesenhada, os acordos entre os grupos políticos tradicionais estão sendo reescritos a cada movimento do tabuleiro eleitoral, que, até ontem, faziam juras de amor eterno. 
Nem tudo é para sempre, explica-me a bruxa caingangue. E se for, será por um arranjo de sobrevivência, onde não há oxigênio para todos.
Todos sabem que Góes foi uma escolha para evitar que o petista tocador de batuque Dr. Antenor chegasse de foice e enxada na cadeira onde sobrenomes tradicionais sentaram o traseiro com pompas de cuecas de seda. Todos contra o Dr. Antenor e seu temido bloco de receitas, e de atestados.

O almoço de hoje terá uns lambaris fritos e uma carpa assada. Preparei um molho de tomate com hortelã fresco. Recomendo. Já tomei umas cuiadas de chimarrão com erva da boa. Sobrou espaço para uma boa pinga do Marquinho. Previsão de chuva no meio da tarde, então me preparei pra sagrada soneca pós almoço.
Enquanto o primeiro gole da pura desce rasgando, fico pensativo sobre os movimentos dos Mattos Leão, os piás do Conselheiro Artagão. Artagãozinho só não chutou a cadeira e tudo o que estiver em cima, pra deixar um espaço de conversa lá na frente. De resto, defenestrou o atual prefeito por onde passou nos últimos meses, começando lá por cima, pelo governo de Ratinho Junior. 
A estratégia era estrangular o acesso a recursos do governo do estado e ser ele, Junior, o único canal de diálogo com o governo estadual. A estratégia de isolar o município foi bem-sucedida, pelo menos do ponto de vista político, mas quem “pagou o pato” foi a população Guarapuavana, que viu a redução brutal de recursos oriundos do governo estadual. Ratinho não põe os pés no Terceiro Planalto desde 14 de abril de 2021.
O custo para os herdeiros políticos dos Mattos Leão está vindo agora, na composição da chapa básica de vereadores dentro do PSD, partido que dominam, o mesmo de Ratinho. Tudo se revela que perderão antigos aliados no Legislativo: Wilson Anciutti, Cesar Malusa, Joel, e o auto-denominado líder da bancada Gilson da Ambulância, a debandada foi geral. Todos foram para a base de Celso Góes, que se transformou numa Torre de Babel, com idiomas que não se conversam. Restou o Gilson, que pode ir para a reeleição, ser candidato a prefeito ou a vice. O grupo apostava na candidatura de Itacir Vezzaro pelo MDB, mas, com chegada de Pedro Moraes, os planos foram por água abaixo. Vezzaro continua voltando sem ter ido.
O PT do Dr. Antenor está nas sondagens de Mattos Leão. Não seria impossível. Evandro Dalmolin, indicado por Artagão Junior, foi o vice do petista em 2012. A petezada reclama até hoje, de acordos não cumpridos, da conta que não foi paga, mas... 
O fato é que, enquanto grupo político, os Mattos Leão precisam de uma floresta pra rugir. É assim, disputando mesmo que para perder hoje, que vão manter base para 2026, na procura pela reeleição de Artagãozinho. Pediram aos candidatos a vereador Fernando Guiné e Rosângela Virmond irem ao sacrifício para enfrentar Celso Góes.
Com a debandada dos Leão, Góes aumentou a dependência dos Silvestri. O Ceuto, como é chamado o Cesinha, domina o meio de campo, a defesa e o ataque dentro da Prefeitura. O atual alcaide até que tentou um golpe de estado, mas faltou minuta e estado-maior. Até a estratégia do Vermeio da Primavera na eleição para a associação de moradores foi melhor. 
Que o diga a secretária Janaína Naumann, que já tinha encomendado festa na Besha pra festejar o cargo de vice-prefeita. Mas isso é assunto pra outro dia.
Peço licença. Vou descer a carpa pra mais perto da brasa. 
Viva Guarapuava!
 

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