A conserva e os pepinos
12/12/2018CHICO GUIL
Agora me cai aos olhos uma notícia sobre a “1ª Cúpula Conservadora das Américas”, coordenada pelo Eduardo Bolsonaro.
Talvez porque ando dormindo pouco nestes tempos de tantas estilingadas, meus olhos embaralharam as letras e leram “1ª Cúpula do Pepino Azedo”. Devido à palavra “conserva”, suponho!
Todo apreciador de conservas sabe o gosto do pepino azedo nestes dias de verão. Com pouco sal e vinagre, umas folhas de parreira, ramas de endro e dois dentes de alho. Comida deliciosa e recomendável para o bem das tripas. Porque o azedo é atividade bacteriana inofensiva e, melhor, auxilia no processo digestivo. O problema do pepino azedo é que em poucas semanas, se não consumido, nem guardado na geladeira, os fungos tomam conta do território das bactérias e o acepipe converte-se em podridão.
Ocorre o mesmo com as coisas da tradição. Não há nada de bom no conservadorismo, exceto naquele primeiro momento, como na conserva do pepino. É gostoso ver as danças, experimentar o sabor das comidas antigas, reviver as músicas e flertar com as velhas musas. Mas os dias passam e começa a aparecer a podridão sob a tinta cultural.
Por trás do pomposa palavra “conservador” estão as velhas práticas escravocratas, preconceitos de todas as cores e estilos, violências veladas ou declaradas contra classes consideradas subalternas – geralmente constituídas de pessoas com pele amorenada ou com identidades sexuais diversas.
Na conserva as pedras não se podem mover, os ombros das estátuas dos homens-de-bem continuam servindo de poleiro para os pombos da praça e em algum lugar os cordeiros estão sendo servidos ao sacrifício. Para o benefício das famílias de bens!
Todo mundo fala
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